17/04/2008

Entrevista a José Sócrates

simplesmente deliciosa...........

16/04/2008

amigos, vinde


[Junto ao Mondego evocando o indomável rio do tempo]

corre o rio -
amigos, vinde
vê-lo correr;
sejamos só
no riso alegre
desta tarde,
um só olhar;
dando as mãos,
mais que o vento
nos elevemos,
ai, mas levando
nas asas brancas,
aquela esperança
que nós sentimos,
azul nascendo,
tão grata e querida,
cada manhã.
amigos, vinde,
que o rio do tempo
não espera por nós;
depois, quando
alto voarmos,
deixemos todos
no mesmo instante
cair as flores
da nossa esperança.
não por magia,
não por mistério,
mas porque nós
um dia cremos
que o nosso sonho
e a nossa morte
era o futuro
por nós nascendo,
paz e amor
será o rio:
esta alegria
cheia das flores
de cada alma -
esta alegria
azul nascendo,
tão grata e querida
cada manhã.



Poema de António Simões, Coimbra, no tempo da ditadura, de 1955/1960
Textos Transversais de Augusto Mota.

14/04/2008

You Are Loved

by Josh Groban

[deixe a música do blogue chegar ao fim
antes de clicar no vídeo para ver as imagens e

ouvir esta cantiga na magnífica voz de Josh Groban]

10/04/2008

o cio do sol


Enquanto lavro o corpo da manhã o Sol, em cio, cavalga um cão de fogo por entre nuvens afiladas e a construção de cidades adivinhadas. Bem perto, porém, há o rodopiar incessante do disco rubro que agora se estampa em nosso olhar. Vemo-lo para além das nuvens. Vemo-lo em cima e para além deste corpo que se adelgaça no esforço de transportar o astro-rei a caminho de outras galáxias bem mais perto de nós.
Rítmica é a sensação do sexo em desespero perante a ingenuidade artesanal do olhar, a firmeza da mão, o gravar da matéria.
Assim se constroem as nossas cidades interiores, que ora são corpo de mulher, ora vielas estreitas por onde vagueamos a tristeza e as mãos vazias de tudo.
As colinas ao longe agridem o espaço como justo contraponto a este paroxismo de dor e de prazer.
Deixemos as coisas acontecer ao ritmo do tempo que tomou conta do nosso acaso.

Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.
Textos Transversais de Augusto Mota.

08/04/2008

III Bienal de Poesia de Silves



“Poem’Arte // Nas Margens da Poesia”

A Câmara Municipal de Silves levará a efeito, nos dias 25, 26 e 27 de Abril de 2008, a III Bienal de Poesia – “Poem’Arte // Nas Margens da Poesia” – a fim de comemorar o 25 de Abril, homenagear Urbano Tavares Rodrigues e inaugurar a novelíssima Biblioteca Municipal.
Ao longo de três dias, e, em mesas redondas, Poetas e Literatos – Aida Monteiro, António Simões, João Rasteiro, Jorge Fragoso, Marco Alexandre Rebelo, Maria Azenha, Maria Gomes, bruno béu, Eduardo Pitta, Graça Magalhães, José Ribeiro Marto, Maria Toscano, Rui Mendes, Teresa Tudela, Luís Serrano, Maria Estela Guedes, Maria do Sameiro Barroso, manuel a. domingos, Manuel Madeira, Porfírio Al Brandão e Domingos Lobo – moderados por Luís Carlos de Abreu, Paulo Penisga e Silvestre Raposo, falarão sobre Poesia, enquanto o Grupo Experiment’arte intervirá, pontualmente, com provocações poéticas, aos Convidados e ao Público.
Na noite de 26 de Abril, será apresentada a Antologia “Poem’arte // Nas Margens da Poesia”, seguida de leituras por Marta Vargas
Dia 27 de Abril, pelas 18 horas, Domingos Lobo, em lição de sapiência, homenageará Urbano Tavares Rodrigues, o Poeta da Palavra Vida, e,
à noite, o recital de poesia – Palavras Interditas – pelo Experiment’arte, encerrará a Bienal.
À excepção da apresentação da Antologia que será feita no Bar Tapas, da Fábrica do Inglês, as mesas redondas decorrerão na Biblioteca Municipal.
Paralelamente, e, durante os três dias, teremos uma Exposição de Pintura de Marta Jacinto.
visite o blogue da bienal "Nas Margens da Poesia" e acompanhe-a, diariamente [clique sobre o nome do blogue]


06/04/2008

as sementes da vertigem


A caminho do Sete-Estrelo viajo entre a névoa das mãos que a cidade oferece em seu arguto viajar. Viajo pelo lado secreto dessas mãos que afagam a manhã, enquanto o sol desponta criador sobre o vale encantado das emoções, lá onde a viagem se faz de retornos e de lentos progressos a caminho do sal e do mar que se esbate no olhar claro e profundo do horizonte.
A paisagem humaniza-se e restitui as bençãos que damos ao lento acordar da manhã. Os olhos, esses, abrem-se de espanto e sacrificam às mãos as novas sensações que viajam muito para lá desse olhar claro do horizonte, que é, ao mesmo tempo, ternura e fonte onde bebemos a sede deste amanhecer.
A viagem é a paisagem que atravessamos em nossas vidas. As paragens são, então, um outro retorno que progride dentro de nós e por nós. A saída será sempre o mar ao fundo e o banho da alma que se purifica naquela maré que invade os membros todos e disfarça este caminhar ao encontro do significado último de todas as metáforas arrumadas na memória das coisas e dos gestos.
Difícil tal viagem! Mas é nesse contacto que o secreto significado dos sinónimos nos arrebata e vive para além de dois mil anos!
Criar um mundo de outras sensações é deixar que as emoções vivam e morram em nosso espanto e beijem as mãos das floridas manhãs, entre a vertigem e o sexo. Sementes prolíficas estas que compramos à beira dos precipícios e lançamos ao vento para libertar a vida que germina em nossos dedos e no bico adunco das aves que, em voos planados, gritam marítimas liberdades e saúdam a vertigem de tal sacrifício!
Sempre o mar recompensa o esforço e o olhar. Cumpriu-se, assim, o destino da metáfora que alimenta os dias e morre ao longe nas curvas do destino.

Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.

05/04/2008

meravigliosa creatura

[deixe a música do blogue chegar ao fim
antes de clicar no vídeo para ver as imagens e
ouvir esta cantiga na voz sensual de Gianna Nannini]
Molti mari e fiumi
attraversero
dentro la tua terra
mi ritroverai
turbini e tempeste
io cavalchero
volero tra il fulmini
per averti

Meravigliosa creatura sei sola al mondo
meravigliosa paura di averti accanto
occhi di sole mi bruciano in mezzo al cuore
amore e vita meravigliosa

Luce dei miei occhi
brilla su di me
voglio mille lune
per accarezzarti
pendo dai tuoi sogni
veglio su di te
non svegliarti
non svegliarti....ancora

Meravigliosa creatura
sei sola al mondo
meravigliosa paura d'averti accanto
occhi di sole mi tremano le parole
amore e vita meravigliosa

Meravigliosa creatura un bacio lento
meravigliosa paura d'averti accanto
all'improvviso tu scendi nel paradiso
muoio d'amore meraviglioso

02/04/2008


a perdiz tem as patas de grés unidas pelo cordel azul
caem penas sobre o cesto das romãs é a tarde
falha a luz
saem clientes com os plásticos ou papel
com a fruta contada
esperam a noite
a perdiz é uma ave perdulária no tropel da passagem
uma gota de sangue sem olhos
um vento frio na paisagem
jaz exposta à rua como o desafio que foi a caça
talvez uma resposta de quem gosta de matar
talvez ali junto ao louro posta
vejamos seus olhos e verdadeiramente saibamos
o que é uma ave dardejando por entre pinheiros
irmã comum do ar

Poema inédito de José Ribeiro Marto
Textos Transversais de Augusto Mota.