31/10/2011

Recordando CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE





Vinda de longe, de muito longe, do outro lado do Atlântico da Poesia, esta pomba, exausta, aqui chegou ao fim da tarde de hoje, em Paz, e pousou, de mansinho, no mastro da mezena para nos lembrar que o grande poeta brasileiro Carlos Drummod de Andrade nasceu a 31 de Outubro de 1902, em Itabira, Minas Gerais. O Palácio das Varandas recebeu-a de "troncos abertos", para recordar dois poemas do seu primeiro livro: «Alguma Poesia – 1925-1930».



QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João   foi   para os  Estados Unidos,  Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim  suicidou-se   e   Lili   casou  com   J.  Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história. 


ANEDOTA BÚLGARA

Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.


in  CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, «FAZENDEIRO DO AR & POESIA ATÉ AGORA»,
2ª  edição, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1955, pp. 52 e 57.

O poeta faleceu aos 84 anos, a 17 de Agosto de 1987, no Rio de Janeiro.

Foto e legenda: Augusto Mota 

30/10/2011

Sou um aventureiro de palavras





Sou um aventureiro de palavras

monto a primeira
e vejo.a cavalgar
rumo ao poema

torno.a alazão

galopante

entre as escarpas
das estrofes que se preferem
absolutas

invento um corcel de ritmo
aforrado entre
as sílabas
troteadas à inglesa

dispo.me de poesia e

litigo a brisa ao som
cadenciado
do silêncio


o poema acontece



Gabriela Rocha Martins, in .delete.me. , edição Folheto Edições & Design, Leiria, inverno 2008, p. 16.



ilustração: Arte Postal / desenho de Pedro Frazão, 1962

28/10/2011

A tábua da broa




I – 1958


Na minha terra,
Crianças não chegavam à tábua da broa
E berravam com uma boca
Onde cabia uma inteira:
- Ó mãe, quero broa! Quero broa!
Outras, mais espertas,
Subiam a uma cadeira e, com o cabo da vassoura,
Zás, caía a broa no chão!
Era tão simples!
Eu nunca fiz isso.
Nunca tive tábua da broa.

II – 2011 (com Luís de Camões por companhia)

Tivera tábua comprida como rio,
E broa, tamanho Lua cheia,
Crestada nos sorrisos das manhãs,
Mataria minha fome e cio,
Meus e do Universo!
Juntara cestos de laranjas e romãs,
Buscando mais do que amor, eia!
No meu e teu reverso,
Ainda que necessário fora voltar ao berço,
Engrolar um soporífero terço,
Tirar bilhete de ida sem regresso,
Secar-me num vasto poema, de excesso,
(Aqui emerge o Vate, o Laureado,
Que só pela rima fora convidado):
“Se tão sublime preço cabe em verso.” *

                                                                      PEDRO FRAZÃO


28-10-2011 /  * Canto I, estância 5.





fotos da Lua cheia e manipulação cromática: Augusto Mota

Sempre fomos um País construído sobre palavras sem sentido...


«Sempre fomos um País construído sobre palavras sem sentido, vazias, como cascas de tremoço aboiadas, após o conteúdo ter sido mascado, para o chão dos velhos caminhos defronte das antigas tabernas ou botequins de uma Ilha que se sumiu. Assim, temos: Aveiro - a Veneza Portuguesa; Sintra -  a Suiça Portuguesa; o Porto, a capital do trabalho; Coimbra - a Lusa Atenas ou Apenas; Covilhã - a Manchester portuguesa; Braga - a cidade dos Arcebispos; Guimarães - a cidade-berço... Nunca somos nós próprios, estamos sempre ao lado. Até a minha freguesia natal, Santa Luzia, também seguiu a moda da nomeação impostora e ficou a Sala(manca) do Concelho de São Paulo...»


in Cristóvão de Aguiar e Francisco de Aguiar, «CATARSE - Diálogo epistolar em forma de romance»,
     edição Lápis de Memórias, Coimbra, Abril 2011, p. 224.


Não perca a entrevista de Cristóvão de Aguiar ao «Mundo Açoriano» de  hoje: http://www.mundoacoriano.com/

27/10/2011





Podes entrar; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas.

Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores,
são lúcidos ao início do sol.
Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços
a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana.


Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move,
entre mim e ti, e a claridade.


maria gomes, 27 de outubro, 2011


foto: augusto mota / centro de um Lírio-amarelo ( Hemerocallis flava )

25/10/2011





19/10/2011

O primeiro dia do homem na terra




O primeiro dia do homem na terra
foi um privilégio
não mais se repetiu

naquele momento ficou preservado todo
o mistério
e a vida começou

os dias não são mais do que percalços
do percurso.

                                                                          Baião Modesto

in «O LOCAL DA PEDRA» (não editado)
Foto e manipulação cromática: Augusto Mota / flor de Anoneira

16/10/2011

Fotopoema






poema: Carlos Alberto Silva, 15 de outubro, 2011
foto e arranjo gráfico: Augusto Mota / flores de Coraleira (Erythrina crista-galli)

10/10/2011

Nada Mais





Nada mais
que uma leve neblina

um espaço
por onde a música
se abra

um renque de árvores
sobre o rio

pouca coisa:
apenas o coração sereno

os olhos e os ouvidos
filtrando o mundo

                                Luís Serrano


in  «NAS COLINAS DO ESQUECIMENTO»,
edição: CAMPO  DAS  LETRAS,  Porto, 2004,  p. 28.

Ver biobliografia deste autor e opiniões críticas sobre a sua obra em:

Ilustração: Arte Postal / desenho de Pedro Frazão, 1963

09/10/2011

O Touro




O TOURO

É bravo na arena o touro,
Usa a testa para marrar;
A bruteza só é ouro,
Pra quem boi anda a criar.

                                 Pedro Frazão, Miraflores, 2009




Arte Postal, desenho de Pedro Frazão, Lisboa, 1962 

Fotopoema






poema: Carlos Alberto Silva, 8 de outubro, 2011
foto e arranjo gráfico: Augusto Mota / flores de uma macieira polinizadora 

07/10/2011

Gloriosa, ou Lírio-glorioso


POEMA DAS COISAS BELAS

As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivo serão belas?
E belas, para quê?


Põe-se o sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do Sol?
E belo, para quê?


Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando coisas percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?


Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?


             António Gedeão, Poemas póstumos (1987)





          A     GLORIOSA, ou LÍRIO-GLORIOSO (Gloriosa superba) é uma trepadeira fora do vulgar, oriunda de África. Tem uma textura herbácea, raízes tuberosas e flores muito decorativas. As folhas são lanceoladas, longas e brilhantes, apresentando uma modificação curiosa nas extremidades, pois transformam-se em gavinhas, que permitem a fixação e ascensão da planta sobre qualquer suporte onde se possam agarrar, pormenor que se pode ver bem em duas das fotografias deste  slideshow.

          Tem um crescimento rápido nos meses quentes, podendo atingir até 2 metros de altura. As flores, que são o  espectacular encanto desta trepadeira, surgem no final da primavera e durante o verão, têm uma característica muito peculiar: as sépalas, em tons alaranjados e vermelhos, viram-se para trás, expondo os ovários e estames, como se a flores estivessem viradas pelo avesso, característica que também se pode observar nesta sequência fotográfica.
          No inverno a planta entra em repouso e perde a folhagem. Neste período os rizomas podem ser removidos e separados, para serem replantados na primavera seguinte.
          A Gloriosa tanto se dá em solos bem drenados, leves e enriquecidos com matéria orgânica, como em vasos e floreiras, exigindo, porém, sol pleno ou meia sombra e regas regulares. Não precisa de ser podada, mas deve ser protegida de invernos rigorosos, retirando os seus rizomas do solo, ou, quando em vasos, colocando estes em locais abrigados.
          Multiplica-se principalmente por subdivisão das raízes ou por sementes, as quais se assemelham, pela cor e forma, a pequenos grãos de romã.

Odysseus Elytis ( 1911.1996 )





XVIII


Percorro agora um país longínquo e sem rugas,
Agora acompanham-me raparigas azuis
e cavalinhos de pedra
com o brinco do sol na ampla fronte.
Gerações de mirto me reconhecem
do tempo em que tremia no iconostásio da água,
proclamando "santo" "santo".
O vencedor do Hades e o salvador de Eros
é o mesmo Príncipe dos Lírios
E por aquelas brisas de Creta de novo
por um instante fui pintado.
Para que os céus sejam justos com o açafrão.
Agora na cal as minhas verdadeiras Leis
encerro e confio.
Bem-aventurados, digo, os que possam decifrar o Imaculado.
Para os seus dentes o mamilo que embriaga,
no peito dos vulcões e na vinha das virgens.
Que sigam o meu caminho!
Percorro agora um país longínquo e sem rugas.
Agora é a mão da Morte
que nos presenteia a Vida
e não existe o sono.
Repica o sino do meio-dia
e devagar nas pedras ardentes se gravam as letras:
AGORA e SEMPRE e LOUVADO SEJA.
Sempre e sempre e agora e agora cantam as aves
LOUVADO SEJA o preço pago.

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notas biobibliográficas

(Pseudónimo de O. Alepoudelis; Iráklion, 1911 - Atenas, 1996) Poeta y ensayista griego, uno de los más representativos de la renovación de la lírica moderna en Grecia. Obtuvo el premio Nobel de Literatura en 1979. Hijo de una acomodada familia procedente de Mitilene, su vocación poética pronto le llevó a abandonar los estudios de derecho que cursaba en la Universidad de Atenas.
Junto con G. Seferis, Y. Ritsos, Andreas Embirikos y otros pertenece a la llamada Generación de 1930, pero mostró una personalidad peculiar dentro del movimiento vanguardista agrupado en torno a la revista Nea grammata (1935), que introdujo el surrealismo en su país. Atraído particularmente por la poesía de P. Éluard, sus poemas más tempranos manifiestan una fuerte personalidad dentro de esa corriente. Orientaciones, publicado en 1940, recoge sus creaciones de esa época.
Publicó más tarde Sol el primero (1943), libro donde tiende más al intimismo. Durante la Segunda Guerra Mundial, tras unirse a la resistencia antifascista con los italianos en Albania, se convirtió en el portavoz de los jóvenes griegos. Uno de sus poemas Canto heroico y fúnebre para el subteniente caído en Albania (1945), un himno a la libertad, tuvo gran repercusión en la posguerra. Después de la contienda no publicó nada durante casi tres lustros. En 1959 reapareció con Axion Esti, largo poema con reminiscencias del Canto a mí mismo de W. Whitman.
La tercera etapa de su poesía se caracteriza por la audacia formal pero conserva su exaltación por la libertad y la energía vital: Dignum est (1959), Seis y un remordimiento para el cielo (1960), El árbol de la luz y la decimocuarta belleza (1971), Monograma (1972). Otras de sus obras son Ho halios ho heliatoras (1971), Los hijastros (1974 ), María Nefeli (1977) y Libro de señales (1977)
Característica de su poesía es la constante búsqueda de la diafanidad. Él mismo lo ha explicado: "Al decir diafanidad entiendo que tras un objeto concreto puede aparecer algo diferente, y tras esto a su vez, otra cosa; y así sucesivamente". Elitys tradujo también a otros poetas como P. Éluard, A. Rimbaud, Lautréamont, P. Jouve, G. Ungaretti, F. García Lorca y V. Maiakovski y a dramaturgos como B. Brecht y J. Giraudoux. Después del golpe militar de 1967, el llamado "poeta del mar Egeo" se estableció en París. ( in Biografías y vidas )

06/10/2011

Prémio Nobel da Literatura 2011


Tomas Tanströmer, 80 anos, um dos poetas mais importantes da Suécia, lançou a sua primeira obra, "17 dikter" ("17 poemas"), em 1954. Estudou psicologia e poesia na Universidade de Estocolmo.

A sua obra foi traduzida para mais de 50 idiomas, e inclui títulos como "The great enigma: new collected poems", "The half-finished heaven", "For the living and the dead""Baltics""Windows and stones". É o poeta mais traduzido da Suécia.

O trabalho surrealista de Transtörmer sobre os mistérios da mente humana fizeram dele um dos escritores escandinavos mais importantes desde a 2ª Guerra Mundial. Em 1990, o escritor sofreu um derrame que o deixou parcialmente paralisado e sem conseguir falar. Mas continuou a escrever, tendo publicado um livro de poemas em 2004.
No livro «21 poetas suecos», publicado em 1981 pela editora Vega, uma obra organizada por Vasco Graça Moura e Ana Hatherly, surge o poema «Lisboa», onde o poeta sueco destaca elementos típicos das zonas históricas da capital portuguesa.

«No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes
Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões
Acenavam através das grades
Gritavam que lhes tirassem o retrato»

«"Mas aqui", disse o condutor e riu à socapa como se cortado ao meio
"aqui estão políticos". Vi a fachada, a fachada, a fachada e lá no cimo um homem à janela
tinha um óculo e olhava para o mar»

«"Roupa branca no azul. Os muros quentes
As moscas liam cartas microscópicas
Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa
"será verdade ou só um sonho meu?"»

Uma passagem pelo Funchal também inspirou Tomas Tranströmer, destacando o mar, a receita atlântica do peixe com tomate e a «língua estranha».

Nota: elementos recolhidos na Net.

03/10/2011

Não esquecer que por enquanto é tempo de Morangos



            Emprestei esta frase do livro «A hora da estrela» de Clarice Lispector. Não é uma frase estratégica, dessas usadas para enganchar o leitor, tampouco foi elaborada para subordinar uma idéia nova. Simplesmente é a última frase do livro. Aquela que pouco será entendida e da qual você se lembrará todas as vezes que comer morangos. E hoje comi morangos, vermelhos e doces, como costumam ser as frutas sazonais. Retirei as folhinhas verdes com cuidado, sentei no sofá e, enquanto comia, ouvia meu pai contar a história do papagaio de seu amigo. Foi um papagaio que apareceu no quintal, sem mais nem menos, e foi ficando, fazendo-se dono do espaço. Gracioso, atrevido e belo foi encantando o dono da casa. Pela manhã dizia bom dia, repetia adjetivos do repertório masculino, repetia nomes, cantava e foi enchendo a casa do homem de palavras. O homem sentiu-se privilegiado ao ter sido eleito por um pássaro. Ria à toa. Comprou comida, construiu uma armação de varetas na varanda para dar guarida ao bichinho, convidou os amigos para conhecê-lo e, nesses encontros, aproveitava para exagerar nos qualificativos sobre o animal.
            Enquanto eu enchia a boca de morangos, meu pai enchia a história de poesia, de cores, de penas, de vôos. E eu pensando onde é que ia dar aquela narrativa. Talvez ele quisesse levantar algumas questões para serem discutidas posteriormente. De modo que fui enumerando mentalmente o que faria sentido para uma discussão. Comecei pela solidão do homem, o amor incondicional dos animais, a vaidade do ser humano, o orgulho, a vocação das pessoas para se apossarem do animal alheio... Mas, antes de tudo, eu deveria descobrir se aquela história era uma comédia ou uma tragédia. Os papagaios sempre ilustram as comédias, quem é que não conhece uma comediazinha cujo personagem principal é um papagaio? Mas pela gravidade na voz de meu pai, comecei a temer o futuro do papagaio. Medo e pena. O homem, o papagaio e os morangos ficaram atravessados em minha garganta. Que fim meu pai daria à história? Quero dizer, a história não era dele, era um relato verídico, e a realidade não perdoa, sabemos disso. Olhamo-nos em silêncio. Perguntei a meu pai como o papagaio fora morto. Eletrocutado no fio de alta tensão, disse sem pestanejar. Ficou dependurado por uma patinha. Grudado mesmo. O homem chamou o bombeiro para retirá-lo dali. O bombeiro não veio. Chamou os amigos para tentar desfazer aquela visão grotesca bem na porta da casa, mas ninguém quis se expor ao perigo da alta tensão. Muita gente deu palpites, mas solução, nenhuma. E o corpo do que era um papagaio seguiu esticado no fio, na frase, na história.
            Corri para o banheiro com a boca cheia de morangos. Não quis comentar nada. Queria vomitar aquela história infame, mas ela já estava arquivada no meu cérebro, juntinha com a história da Macabea. Devia ser por conta dos morangos. O papagaio, por um instante, era a Macabea. Desprovido de conhecimento, indefeso, apenas repetia o gesto dos outros, as idéias dos outros, e, como ela, gostava de estar em algum canto do mundo, de onde pudesse ver o tempo passar. Macabea, dona de uma alma rala, morreu esmagada por um carro depois de uma cartomante lhe encher a vida de palavras. Ficou caída sobre os paralelepípedos sujos em posição fetal, numa tentativa de abraçar-se a si mesma. Morreu deixando uma vida cheia de promessas que não foram cumpridas. Uma morte que poderia ser evitada. Clarice não quis. Desenrolou oito páginas para a luta muda da personagem que tenta viver. Mas vida e morte ficam tão relativizadas que não sabemos se Macabea está viva ou morta. Na verdade, Clarice nos trai, nos conduz por caminhos oblíquos, nos fragiliza, nos leva para mares nunca dantes navegados, nos faz atravessar a linha limite entre vida e morte como se fôssemos atravessar uma rua e, ironiza, enquanto narradora, dizendo que morre várias vezes só para experimentar a ressurreição. Com pequenas sutilezas, tenta nos jogar para a morte: “os que me lerem, assim, levem um soco no estômago para ver se é bom. A vida é um soco no estômago.”
            Começo a raciocinar, dentro da lógica que me falta, que a literatura é muito perversa. Capaz de manipular a vida e a morte. E até uma idéia furtiva acende detrás do meu pensamento, sinalizando que eu também sou culpada pela morte do papagaio. Por enquanto, só posso dizer que ainda é tempo de morangos.

Lucilene Machado / Brasil, 3 de Outubro, 2011


Fotopoema




poema: António Simões, 1958 / da série «POEMAS DUM OUTRO TEMPO»
foto e composição: Augusto Mota / Estrelícia (Strelitzia reginae)