07/06/2008

Em Pausa



Este blogue segue em Nas Margens da Poesia


29/05/2008

Eu Também Não!

Socrateando…ou como a filosofia da “banha da cobra” nos pode enganar!

Numa esplanada na praia do Vau, perscrutando o horizonte desse mar infindo, aqui me encontro inquieta, volteando, filosofando, socrateando…
Como é que Portugal, um país tão afortunado em paisagens idílicas e até com alguns recursos naturais, persiste, ao longo da História, em caminhar para o precipício? Há um qualquer feitiço, um destino nefasto que nos persegue desde sempre…talvez um país que nasce da revolta de um filho contra a própria mãe, não augure nada de bom e o fantasma da D.Teresa, mãe de D.Afonso Henriques, ainda nos amaldiçoe …!
Para mim, já se torna difícil encontrar uma explicação lógica e racional para esta auto-destruição que insiste em nos afundar. Vários autores o têm tentado explicar, como por exemplo, Eduardo Lourenço na sua obra fabulosa “O Labirinto da Saudade - Psicanálise mítica do Povo Português” e até mais recentemente José Gil, no livro ”Portugal hoje – o medo de existir”. Mas afinal onde está o busílis da questão – em quem nos governa ou no povo? Não são afinal os governos constituídos por portugueses? Talvez o país precise de ir ao psiquiatra, deitar-se no divã e sujeitar-se a uma psicanálise profunda que o trate, regenere e acabe de vez com esta inércia que o amolece e impede de “pegar o touro pelos cornos”, em vez de continuarmo-nos a lamentar, cochichando pelos cantos, assistindo impávidos e serenos à destruição do nosso património paisagístico, ambiental e das nossas actividades ligadas ao mar e à terra.
Deixemo-nos de vez de procurar salvadores da pátria, emergentes ao longo da História – afinal o rei D. Sebastião teima em não aparecer numa manhã de nevoeiro, o Prof. Cavaco Silva que reinou num período de prosperidade económica, que fez e que faz agora pelo País? E agora o Eng. José Sócrates, a quem os portugueses concederam maioria absoluta, esperando por milagres, constatam afinal que as rosas no regaço da campanha eleitoral não se transformaram em pão, mas sim em presentes envenenados, tais como: aumento desenfreado dos combustíveis, mais desemprego, mais pobreza e onde as desigualdades sociais já superam as dos E.U.A … já há quem pense em trocá-lo pela Dr.ª Manuela Ferreira Leite – esta agora sim, a pessoa ideal, e então onde está essa memória curta que os fez esquecer que também ela já governou e mal… onde como ministra da educação foi um autêntico desastre … para outros o salvador possível seria o Dr. Alberto João Jardim – pois claro, neste reino do faz-de-conta em que já se vive, só falta o bobo-mor da corte para a palhaçada ser completa… Deixemo-nos de ser belas-adormecidas, esperando o beijo milagroso do Príncipe Encantado, que após eleições se transforma num sapo feio e mentiroso…
Olho novamente para o mar… está mais revolto e cinzento, acompanha o meu estado de espírito… os novelos de espuma morrem na areia como alguns dos meus sonhos se esboroaram no tempo… mas olhando as crianças, despreocupadas e felizes, brincando à beira-mar, ainda tenho esperança que agarrem o futuro, tirando o país desta letargia, dignificando-o e devolvendo o verdadeiro significado à palavra Demo-cracia.


Luísa Penisga Gonzalez, Membro pelo B.E. na Assembleia Municipal de Portimão

PS - hoje, via email, recebi da minha amiga, de longa data, e conterrânea, Luísa Penisga, este artigo que publicou no Jornal Barlavento.
Não sou, como ela ,do BE. Sou militante do PS.
Tal não me impede, porém, de ser crítica em relação a algumas posições do PS, de concordar com algumas pessoas que, militantes e/ou simpatizantes de outros Partidos, ou não, pensam pelas suas próprias cabeças.
Partilho, convosco, o texto que a Luísa me enviou.

-gabriela rocha martins.

28/05/2008

entre as colinas da memória

A verde escrevo o sol que escorre pelas minhas mãos e tudo se dilui na saudade de infinito e nos desejos dos olhos claros da madrugada. Antes fosse um poema que perpetuasse os segundos que em mim ardem como bicos aguçados que sangram os lábios e a dor do futuro. Mas futuro é o presente que arde e sente, que fere e pressente o rosto que acaricia um horizonte de mãos entre as colinas da memória.

Se o futuro é cada segundo que hoje vivemos, que se eternize o júbilo da sagração e se festeje cada gesto como dádiva sequiosa que inunda o corpo e percorre, em êxtase, os caminhos da cidade sitiada.

Sobre as colinas de Jerusalém dormem as mãos e a boca dessa memória renascida das cruzadas, dessas lutas sem inimigo, desse esvair por dentro do passado sem futuro, ou do futuro sem presente. De qualquer modo sentem-se e pressentem-se as mãos que ardem entre as colinas da memória, agora rejuvenescida, e sentem-se e pressentem-se as lágrimas que escorrem entre os dedos do dia que amanhece. Serão contas, talvez, de um novo rosário de feitiços e encantamentos.

Um outro sufrágio das mãos ritualiza, agradecido, uma nova religião de gestos em oferenda. O oficiante está pronto para as trindades do amanhecer!


Texto de Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.

27/05/2008

o poeta

x .o poeta

é um velho amante crucificado em cruz de lata
que não sabe de onde veio nem para onde vai

é um corsário
um chulo
um prostituto
um canalha
que à noite se deita com a Poesia
e
de manhã brinca com as palavras
deixadas a marinar no riso dos deuses imortais

.
.
.

........
....... um pássaro voa em azul
.... um poeta veste.se de silêncio

.sobram palavras

_______________
poema de gabriela rocha martins
telas de nicoletta.

25/05/2008

Fados dos Quatro Elementos


Fado de Água
Ó fado da minha mágoa
Não apresses o meu fim –
Vou cantar-te fado de água:
Lava a dor que trago em mim.

Lava e leva o sofrimento
Para longe dos meus passos,
Como se fosses o vento
Soprando entre os meus braços.

Ó fado de cada dia,
Em que minha alma procura,
Quando a manhã principia,
Novo amor, nova ternura.

Mal ouço a fonte cantar
Logo sinto o coração
Sua dor suavizar
Na água dessa canção.

Fado de oiro, fado de água,
Só tu fazes esquecer
Esta ferida lacerada
Que rasga todo o meu ser.

Por isso te cantarei
Para que a dor suavizes,
E onde impera a tua lei
A todos tornes felizes.

Vai correndo, fado de água,
Dentro de mim e por fora,
Faz nascer a madrugada
Quando a noite me devora.




( clicar sobre as imagens para aumentar )

Poema de António Simões, inédito [ Fados dos Quatro Elementos ]
Textos Transversais de Augusto Mota.

20/05/2008

De açafate no braço

Excerto de um poema de Teresa Tudela in "Nas Margens da Poesia"
Fotografia e composição de Augusto Mota.

18/05/2008

1. fados dos quatro elementos

FADO DE AR


Diz-se que o ar não tem cor,
Mas nessa eu não acredito,
Basta olhar, por favor,
Quando é hora do sol-pôr,
Para a cor do infinito.

Ele é a grande redoma
Que envolve todo o planeta –
Se a nuvem ao alto assoma,
Voa a águia e voa a pomba,
E também a avioneta.

Eu vou pegar num balão
E enchê-lo num momento –
Ponho lá o coração,
Vai leve como o balão
Para onde for o vento.

Quando ao pé de mim escuto
O teu brando respirar,
Na paz do nosso reduto
Há silêncio absoluto,
Fica à escuta o próprio ar.

Dos elementos és rei,
Desses quatro principais;
Mal eu nasci, respirei,
Ó ar, sem a tua lei
Ninguém vivia jamais.



Poema de António Simões ( inédito )
"Fado", quadro de José Malhoa.

14/05/2008

Textos Transversais


de INFINITO SINGULAR

“Diferentemente dos deuses que sempre falaram ao homem, os textos não falam; acrescentam-se às coisas, tornam-se coisas. Engendram novos espaços para novas coisas. Ou melhor: eles falam, mas o que dizem logo se condensa, ou numa excessiva legibilidade de que só podemos suspeitar, ou numa ilegibilidade que nos obriga a um exercício de decifração que, não raramente, nos conduz a pouco mais do que à premonição de um silêncio que não é uma forma de ser, mas apenas uma espécie de mudez, de afasia.”

in Magalhães, Rui - «INFINITO SINGULAR: Sobre o não-literário»,
cap. Discurso e silêncio do texto, p. 78, ed. Textiverso, Leiria, 2006.
Textos Transversais de Augusto Mota.



13/05/2008

Dentro de momentos toda a verdade

Poema de manuel a domingos, in Antologia da III Bienal de Poesia de Silves//"Nas Margens da Poesia"
Fotografia, manipulação cromática e composição de Augusto Mota.

11/05/2008

abafado no desassossego

excerto de a rosa iniciática in «I Antologia de Poetas Lusófonos», Folheto Edições & Design, Leiria, 2007

Poema de gabriela rocha martins
Fotografia e composição de Augusto Mota.

10/05/2008

infinito branco

in A CHUVA NOS ESPELOS, ed. Alma Azul, 2008

Poema de Maria Azenha
Fotografia e composição de Augusto Mota

08/05/2008

Minha mãe amassa...




( clique sobre as imagens para aumentar )
Poemas de António Simões
Fotografias e composições de Augusto Mota [ da série Minha Mãe Amassa ]

05/05/2008

a litania do azul

Em nosso peito abre-se a rosa azul do prazer que habilidoso jardineiro cultivou em suas experiências de vida e de morte. Assim se libertam as sensações como pétalas caídas no chão que havemos de percorrer em sublime litania. Assim beijamos as pétalas azuis e sentimos um frémito avançar sobre o corpo todo e uma maré de recordações enrubescer as mãos e os pés.
Caminhar agora é difícil. Voar seria a deslocação apetecida. Pairar sobre o jardim das rosas azuis a satisfação plena de nossos desejos.
Tanta energia consumida a tirar, primeiro, os espinhos!
Resta-nos, por hoje, um punhado de pétalas azuis que, sôfregos e sofredores, agarramos bem com ambas as mãos e lançamos ao vento pela janela aberta da nossa desilusão.
Que cada porção de azul se multiplique em fértil terreno e melhores emoções germinem apetecidas em nossas bocas! As mãos, assim, ficarão mais quentes e, agradecidas, colherão as primícias desse jardim, para depois saborearmos o perfume azul da nova botânica.
Tal jardim será o constante renovar dos olhos e das mãos em apoteose.
Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.

17/04/2008

Entrevista a José Sócrates

simplesmente deliciosa...........

16/04/2008

amigos, vinde


[Junto ao Mondego evocando o indomável rio do tempo]

corre o rio -
amigos, vinde
vê-lo correr;
sejamos só
no riso alegre
desta tarde,
um só olhar;
dando as mãos,
mais que o vento
nos elevemos,
ai, mas levando
nas asas brancas,
aquela esperança
que nós sentimos,
azul nascendo,
tão grata e querida,
cada manhã.
amigos, vinde,
que o rio do tempo
não espera por nós;
depois, quando
alto voarmos,
deixemos todos
no mesmo instante
cair as flores
da nossa esperança.
não por magia,
não por mistério,
mas porque nós
um dia cremos
que o nosso sonho
e a nossa morte
era o futuro
por nós nascendo,
paz e amor
será o rio:
esta alegria
cheia das flores
de cada alma -
esta alegria
azul nascendo,
tão grata e querida
cada manhã.



Poema de António Simões, Coimbra, no tempo da ditadura, de 1955/1960
Textos Transversais de Augusto Mota.

14/04/2008

You Are Loved

by Josh Groban

[deixe a música do blogue chegar ao fim
antes de clicar no vídeo para ver as imagens e

ouvir esta cantiga na magnífica voz de Josh Groban]

10/04/2008

o cio do sol


Enquanto lavro o corpo da manhã o Sol, em cio, cavalga um cão de fogo por entre nuvens afiladas e a construção de cidades adivinhadas. Bem perto, porém, há o rodopiar incessante do disco rubro que agora se estampa em nosso olhar. Vemo-lo para além das nuvens. Vemo-lo em cima e para além deste corpo que se adelgaça no esforço de transportar o astro-rei a caminho de outras galáxias bem mais perto de nós.
Rítmica é a sensação do sexo em desespero perante a ingenuidade artesanal do olhar, a firmeza da mão, o gravar da matéria.
Assim se constroem as nossas cidades interiores, que ora são corpo de mulher, ora vielas estreitas por onde vagueamos a tristeza e as mãos vazias de tudo.
As colinas ao longe agridem o espaço como justo contraponto a este paroxismo de dor e de prazer.
Deixemos as coisas acontecer ao ritmo do tempo que tomou conta do nosso acaso.

Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.
Textos Transversais de Augusto Mota.

08/04/2008

III Bienal de Poesia de Silves



“Poem’Arte // Nas Margens da Poesia”

A Câmara Municipal de Silves levará a efeito, nos dias 25, 26 e 27 de Abril de 2008, a III Bienal de Poesia – “Poem’Arte // Nas Margens da Poesia” – a fim de comemorar o 25 de Abril, homenagear Urbano Tavares Rodrigues e inaugurar a novelíssima Biblioteca Municipal.
Ao longo de três dias, e, em mesas redondas, Poetas e Literatos – Aida Monteiro, António Simões, João Rasteiro, Jorge Fragoso, Marco Alexandre Rebelo, Maria Azenha, Maria Gomes, bruno béu, Eduardo Pitta, Graça Magalhães, José Ribeiro Marto, Maria Toscano, Rui Mendes, Teresa Tudela, Luís Serrano, Maria Estela Guedes, Maria do Sameiro Barroso, manuel a. domingos, Manuel Madeira, Porfírio Al Brandão e Domingos Lobo – moderados por Luís Carlos de Abreu, Paulo Penisga e Silvestre Raposo, falarão sobre Poesia, enquanto o Grupo Experiment’arte intervirá, pontualmente, com provocações poéticas, aos Convidados e ao Público.
Na noite de 26 de Abril, será apresentada a Antologia “Poem’arte // Nas Margens da Poesia”, seguida de leituras por Marta Vargas
Dia 27 de Abril, pelas 18 horas, Domingos Lobo, em lição de sapiência, homenageará Urbano Tavares Rodrigues, o Poeta da Palavra Vida, e,
à noite, o recital de poesia – Palavras Interditas – pelo Experiment’arte, encerrará a Bienal.
À excepção da apresentação da Antologia que será feita no Bar Tapas, da Fábrica do Inglês, as mesas redondas decorrerão na Biblioteca Municipal.
Paralelamente, e, durante os três dias, teremos uma Exposição de Pintura de Marta Jacinto.
visite o blogue da bienal "Nas Margens da Poesia" e acompanhe-a, diariamente [clique sobre o nome do blogue]


06/04/2008

as sementes da vertigem


A caminho do Sete-Estrelo viajo entre a névoa das mãos que a cidade oferece em seu arguto viajar. Viajo pelo lado secreto dessas mãos que afagam a manhã, enquanto o sol desponta criador sobre o vale encantado das emoções, lá onde a viagem se faz de retornos e de lentos progressos a caminho do sal e do mar que se esbate no olhar claro e profundo do horizonte.
A paisagem humaniza-se e restitui as bençãos que damos ao lento acordar da manhã. Os olhos, esses, abrem-se de espanto e sacrificam às mãos as novas sensações que viajam muito para lá desse olhar claro do horizonte, que é, ao mesmo tempo, ternura e fonte onde bebemos a sede deste amanhecer.
A viagem é a paisagem que atravessamos em nossas vidas. As paragens são, então, um outro retorno que progride dentro de nós e por nós. A saída será sempre o mar ao fundo e o banho da alma que se purifica naquela maré que invade os membros todos e disfarça este caminhar ao encontro do significado último de todas as metáforas arrumadas na memória das coisas e dos gestos.
Difícil tal viagem! Mas é nesse contacto que o secreto significado dos sinónimos nos arrebata e vive para além de dois mil anos!
Criar um mundo de outras sensações é deixar que as emoções vivam e morram em nosso espanto e beijem as mãos das floridas manhãs, entre a vertigem e o sexo. Sementes prolíficas estas que compramos à beira dos precipícios e lançamos ao vento para libertar a vida que germina em nossos dedos e no bico adunco das aves que, em voos planados, gritam marítimas liberdades e saúdam a vertigem de tal sacrifício!
Sempre o mar recompensa o esforço e o olhar. Cumpriu-se, assim, o destino da metáfora que alimenta os dias e morre ao longe nas curvas do destino.

Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.

05/04/2008

meravigliosa creatura

[deixe a música do blogue chegar ao fim
antes de clicar no vídeo para ver as imagens e
ouvir esta cantiga na voz sensual de Gianna Nannini]
Molti mari e fiumi
attraversero
dentro la tua terra
mi ritroverai
turbini e tempeste
io cavalchero
volero tra il fulmini
per averti

Meravigliosa creatura sei sola al mondo
meravigliosa paura di averti accanto
occhi di sole mi bruciano in mezzo al cuore
amore e vita meravigliosa

Luce dei miei occhi
brilla su di me
voglio mille lune
per accarezzarti
pendo dai tuoi sogni
veglio su di te
non svegliarti
non svegliarti....ancora

Meravigliosa creatura
sei sola al mondo
meravigliosa paura d'averti accanto
occhi di sole mi tremano le parole
amore e vita meravigliosa

Meravigliosa creatura un bacio lento
meravigliosa paura d'averti accanto
all'improvviso tu scendi nel paradiso
muoio d'amore meraviglioso

02/04/2008


a perdiz tem as patas de grés unidas pelo cordel azul
caem penas sobre o cesto das romãs é a tarde
falha a luz
saem clientes com os plásticos ou papel
com a fruta contada
esperam a noite
a perdiz é uma ave perdulária no tropel da passagem
uma gota de sangue sem olhos
um vento frio na paisagem
jaz exposta à rua como o desafio que foi a caça
talvez uma resposta de quem gosta de matar
talvez ali junto ao louro posta
vejamos seus olhos e verdadeiramente saibamos
o que é uma ave dardejando por entre pinheiros
irmã comum do ar

Poema inédito de José Ribeiro Marto
Textos Transversais de Augusto Mota.

28/03/2008

prenúncio da cidade sitiada

Como um deus sorvo as colinas do desejo e sigo, perdido, pelas sendas agrestes da memória e de um tempo que parou aqui. E agora, receoso, fujo de mim em direcção às mãos que desenham cada gesto e perpetuam o amanhecer.
Duas estrelas recordam os êxitos dessa memória e clamam pelo subtil silêncio da cidade sitiada. Não é vã a glória que é prenúncio de outra cidade! Sempre o corpo há-de ser metáfora de mulher e de cidade! Assim a conquista corre célere pelas mãos que, em uníssono, celebram o ritual do sacrifício.
Um dia tudo há-de ser claro como o grito da vitória entre as mãos em penitência. A confissão ficará adiada para a memória do presente!


Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.

26/03/2008

eu sou a vibração do teu verso


nas tuas mãos bem seguras
os teus segredos
dádivas pulsam
correm pelos dedos
cruzam corações
luzes
a pele a linha cicatriz
fonética a linho falada
os lábios entreabertos
o tempo de guardar a boca a espada
de segredos
a dádiva
os pulsos de morte
com a tinta azul e forte
pelo tacto
pela mágoa
e
eu sou a vibração do teu verso
unida à tua voz de fala escrita

José Ribeiro Marto, inédito, in " a celebração dos dias"
Textos Transversais de Augusto Mota.

23/03/2008

....................as palavras I*

há palavras que me esperam
no outro lado da folha ou
na próxima estação
se o combóio
passar por aqui
escrevo em fuligem a velocidade
de um beijo
sussurrado ao vento e
apresso.me a dese
nhar o mar
se a noite
começar aqui
deixarei o outono e o in
verno ou
o inferno a
brincar com a prima
vera do verão
se o dia
se perder aqui
serei a sagração im
pura da alegria re
encontrada
ou a palavra amante pre
ferida
do poema
se o amor
reincidir em mim



*poema para ser lido e não dito
Poema inédito de gabriela rocha martins
Textos Transversais de Augusto Mota.

18/03/2008

vem, primavera

vem,
vem de noite, enquanto o monstro dorme,
vem, pela mão-madrugada de uma criança,
que é perfume e beijo, vento leve, prenhez avinhada,
ah! do vinho embriagador do tempo dos homens livres,
que há-de um dia sair do aconchego dos teus dedos
e existir nas flores e nos seios da tarde suavíssima
do teu enleio, companheira,
tarde que nunca anoitece, pura e constante,
transparente como a neblina vítrea
de uma canção secreta de núpcias;
vem pela noite espessa do nosso medo,
vem e apaga as cores do nosso arco-íris de incertezas,
e deixa que as mãos dos homens se prolonguem em teus ramos
e respirem em teu hálito de macieiras floridas -
vem,
e fecunda a terra de alegria
e fica para sempre a iluminar o nosso coração,
ó flor perfumada de luz!



Poema inédito de António Simões, Coimbra, 1960
"Quantos Passos", poema de Maria Toscano, com composição gráfica de Augusto Mota
Textos Transversais de Augusto Mota.

13/03/2008

Essas, Amor e Esperança - 3


essas
outras palavras,
estas cansaram.
os actos que faltam,
esses serão
as palavras novas,
definitivas.
( os actos são
palavras vivas )
amor
puseram algemas em minhas mãos
e elas ficaram nuas;
para apertarem as de todos os irmãos,
noutras minhas também , as tuas
esperança - 3
manhã sem sol,
manhã decretada manhã
pelos que a negam
e por nós que a afirmamos
manhã sem sol de sol escondido
nas raizes da noite que furamos
-e seremos tronco, flor e ramos


Poemas inéditos de António Simões,
Textos Transversais de Augusto Mota.