24/06/2012

Colateralidades 4




O quarto em desordem





Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor.  Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor

que não se sabe como é feita:  amor,
na quintessência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,

verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.


                   Carlos Drummond de Andrade 

in «FAZENDEIRO DO AR & POESIA ATÉ AGORA», Livraria José Olympio Editora,
      Rio de Janeiro, 1955, capítulo Fazendeiro do Ar, p. 519.
Foto: Augusto Mota / centro de um Lírio-aranha (Hymenocallis festalis)


20/06/2012

Colateralidades 3