24/05/2006

Sol Nascente / Loro Sae

Abre-se a terra para homenagear um povo que habitou as suas entranhas, enquanto aguardava que, um dia, o sol, como um galo de luta, anunciasse a vitória perpétua dos seus sonhos.
Abre-se, depois, a terra para erguer um monumento à memória dos que já não viram o futuro, mas onde as cruzes brancas, em honra do seu sacrifiício, serão memória e fundamento de uma nova cidade.
Abre-se, também, a terra para marcar uma fronteira visível entre essa memória das muitas vidas anónimas perdidas e a perfídia das resoluções urgentes todos os dias convenientemente adiadas.
Abre-se, ainda, a terra para afastar, de vez, do sol nascente, as palavras ardilosas e os sorrisos dissimulados que, como um verme astuto e peçonhento, rastejam, sem rosto, pelos caminhos cobardes da traição cruel e impiedosa.
E a terra abre-se, finalmente, para deixar o engenho das mãos e das máquinas limpar as sombras negras que o fogo do ódio projectou na paisagem clara e nas ruas férteis de tanta esperança. Que os nós que alimentam as cordas dessa esperança sejam bem firmes, para aguentarem os ventos de tanta adversidade. E que nas praias do desespero de ontem, arribem, pela maré cheia, os barcos da boa-nova e da abundância. Nos porões da solidariedade hão-de levar, também, fado e saudade. Para cantar o destino de um país que terá de carregar, para sempre, em seu nome, como letra inicial, a cruz dolorosa da sua construção.
Augusto Mota, in "Juntos por Loro Sae", edição Jorlis, Leiria, Dezembro, 1999.

9 comentários:

Anónimo disse...

face aos acontecimentos que, nos últimos meses, têm assolado Timor-Leste, achámos, face à sua actualidade, pertinente a publicação do presente texto de Augusto Mota.
que cada um perca dois minutos a pensar ...

Anónimo disse...

O Autor escreveu o texto. E publicou-o, independentemente, de ser ou não ser actual.
Timor, o País mártir merece-o, como merece uma mais firme determinação. Vejamos como actuam as forças de reacção. Vejamos... E antes que algo de muito grave possa acontecer, um abraço para quem se preocupa com a Liberdade.
Um abraço, Amigos!

Anónimo disse...

Timor. O T em forma de cruz. Feliz imagem a sua, Augusto Mota!

Anónimo disse...

obrigada, Rita!
nós estaremos onde sempre estivemos - nos meandros da Liberdade!

Anónimo disse...

obrigada, José Artur!

Anónimo disse...

Em 1999, aquando da feitura do texto para a Antologia "JUNTOS POR LORO SAE", texto sugerido pelo desenho original para a execução da serigrafia,cuja edição ofereci integralmente para a causa, parecia advinhar que naquele monumento nem tudo estava ainda seguro. Por isso queria "que os nós que alimentam as cordas dessa esperança sejam bem fimes, para aguentarem os ventos de tanta adversidade". Também "as palavras ardilosas e os sorrisos dissimulados que,como um verme astuto e peçonhento,rastejam,sem rosto,pelos caminhos cobardes da traição cruel e impiedosa" vão,infelizmente, continuar a marcar a senda dos muitos e variados interesses em jogo. Mas que nas praias do desespero de ontem e de hoje arribem céleres os barcos da boa-nova,levando os porões cheios de uma verdadeira e desinteressada solidariedade!!!

Anónimo disse...

Assim seja, Mota, pois também eu temia nessa altura que tudo tinha sido apressado por razões pouco claras, e que não havia bases fortes nem convicções para um futuro.Agora, "eles" continuam lá todos, a confusão é geral, mesmo para os barcos da boa-nova que vão chegando, e o caso é mais grave !

Anónimo disse...

quando os interesses em jogo não são claros ... tudo, mas mesmo tudo ... infelizmente pode acontecer, Fernanda!

1 beijinho!

Anónimo disse...

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