14/07/2005

há fotografias como punhais

há fotografias como punhais
e poemas também
todos os poemas que escreverei já foram escritos
dou-me apenas ao ofício das trevas
de os escrever em pedaços de argila
neles estão impressos a chuva e o vento
e as folhas noviças dos séculos
e o meu pai e a minha mãe que já partiram
esvoaçando num passado remoto
e também a rapariga feia e bela
e desfigurada pela varíola
que nunca fora amada porque não era bela
e que numa noite na taberna de Vladivostoque
se ofereceu derradeiramente a Joseph Kessel
talvez pouca gente saiba deste verso
que nunca foi escrito deste modo
e que foi acontecido durante a guerra sino-japonesa
ninguém esteve lá mas eu estive
trouxe-o comigo
é exactamente por isso que os meus poemas
escritos em verso já foram todos escritos
são como chagas alastrando e crescendo
em cristais de fogo
e o recinto do seu destino
está entre a terra e as estrelas
sei apesar de tudo porque li Juan Gelman
que cada lágrima é um problema insolúvel
maria azenha, ( lembrando a fotografia escolhida no 7 de julho, em londres )

6 comentários:

Anónimo disse...

Corro de blog em blog e aqui encontro a beleza renovada da Poesia.
A música ajuda à concentração necessária.
E aqui regresso fiel porque mesmo uma rapariga feia consegue ser bonita quando descrita por um Poeta. Neste caso, uma.
Parabéns.

Anónimo disse...

Um lenço de cambraia para enxugar a lágrima

Anónimo disse...

eternamente gentil, Filipe. lindo!!

Anónimo disse...

os artífices da Poesia agradecem

M.A. disse...

entrar no desafio(mistério) do advir e da poesia que lá habita,eis o propósito de algumas Vidas.

grata pelo Sol que vai espalhando.

Amiga azul,
um beijo,

mariah

Anónimo disse...

Do anil ao azul

a distância duma jarda

a sul


Amiga,
( das cores do arco íris )