13/07/2005

XVII

( poema a ser lido, hoje à noite, no programa "Grande Entrevista" de Judite de Sousa, um mês após a morte de Álvaro Cunhal )

Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala...
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.
Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.

Quando vieres
nenhum de nós dirá nada
mas a mãe largará o bordado
o pai largará o jornal
as crianças os brinquedos
e abriremos para ti os nossos corações.

Pois quando tu vieres
Não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Qando vieres.

Maria Eugénia Cunhal, in "Silêncio de Vidro"

4 comentários:

Anónimo disse...

O mundo novo virá, para esperança de todos nós.
Obrigada, Maria Eugénia,
obrigada, Camarada!

Anónimo disse...

Não sou comunista, mas acredito nesse mundo novo e fraterno.
Por isso aqui deixo o meu abraço solidário.

Anónimo disse...

Um sensível poema cheio de amor fraterno

Anónimo disse...

apesar do lugar comum, creio, firme, que o Amor vencerá sempre, independentemente, de credos ou ideologias.