Suculentos frutos frescos abrem-se à boca como romãs ao sol poente e o sumo carmim de suas veias derrama-se como música em nossas mãos. O bardo entoa o sortilégio de um céu longínquo de azul e fantasia. Muito para além das janelas desses frutos revejo os tempos em que juntos bebemos suas sementes, quando a maresia e o vento leste nos pinhais parecia prolongar a doçura de cada gesto e tais frutos abertos à natureza diziam de nós e de todas as colheitas que sagravam os bosques do nosso contentamento.Em seu constante revolver o mar acolhe este balançar entre a memória e o vento, enquanto o bardo insiste nos tons outonais do poente que separa a vida e a gente.Lestos são os frutos em seu despontar do prazer. Serão novo andamento em secreto concerto, melodia vaga e triste que ensombra os dedos e chora por nós um adeus que festeja o álacre Outono em sua primaveril renovação.As estações do corpo também cumprirão seus ritos!
Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.
4 comentários:
Há muito, mesmo muito tempo, que não visitava este blog. E faço, hoje, com a mesma alegria com que o descobri, há anos.
A mesma intensidade. A mesma beleza. O mesmo acreditar.
O encontrar o prazer naquilo que leio. Como o que pressuponho nos que o fazem. A alegria dos primeiros encontros...
O sortilégio de leitura para todos aqueles que vos visitam.
O prazer de ser por inteiro.
Aqui.
outra verdade muito verdadinha, Júlia ... aliás, o Palácio só se justifica porque a tripulação continua sem "enjôos" ... e com imenso prazer em velejar ...
obrigada, Renato.
lindo, como sempre ... em tudo!
1 bj.
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