Tem de ser um raio de extrema claridade,
onde a densíssima luz da manhã se concentre,
um fio de gelo longo, translúcido, leve como o vento,
espetado neste pão de ternura prometida
ainda quente do forno da infância,
que é o teu sempre menino,
envelhecido coração,
unindo o infinito às secretas câmaras da terra
onde a memória se acomoda;
tem de ser um raio dessa luz que se embebeda
do olhar intenso das crianças
eaquece as frias manhãs da nossa perplexa solidão;
tem de ser um raio que coincida com o eixo do universo
e vá de uma à outra ponta
e me cegue de tal modo
que eu posso finalmente
ver a luz do outro lado - António Simões, in ( poemas antigos ), inédito.
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