Secreta é a voz que nos fala distante, perdida nas ruas de si própria. Secreto é o olhar que guia os nossos passos pelos atalhos da tarde. Secreto é o perfume que anima o rosto dos gestos, agora, também eles, perdidos nas ruas de si próprios.Divagando pelas ruas, arrastamos as palavras de encontro aos muros brancos da cidade antiga e neles registamos os sentidos particulares que se escondem por detrás de cada letra de cada palavra. Assim expostos, alguém há-de ajudá-los a encontrar o caminho certo de volta às palavras onde sempre habitaram, antes de a aventura dos dias lhes ter destinado outras paragens.Em cada gesto mora uma palavra. Em cada palavra mora um gesto. Tudo começa e acaba no gesto do olhar, no rosto dos gestos.Secreta é a esperança que, como um rio, reflecte o corpo e o rosto. Só as mãos ficam de fora para, do cimo do monte, acenar um adeus ao sol poente que se esconde, ao longe, apressadamente, entre os pinhais da beira-mar, levando consigo, para o outro lado do mundo, um novo sentido para a palavra saudade.Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.
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