A presença mais pura
Nada do mundo mais próximo
mas aqueles a quem negamos a palavra
o amor, certas enfermidades, a presença mais pura
ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância da língua comum deixaste
o teu coração?»
A altura desesperada do azul
no teu retrato de adolescente há centenas de anos
a extinção dos lírios no jardim municipal
o mar desta baía em ruínas ou se quiseres
os sacos do supermercado que se expandem nas gavetas
as conversas ainda surpreendentemente escolares
soletradas em família
a fadiga da corrida domingueira pela mata
as senhas da lavandaria com um "não esquecer" fixado
o terror que temos
de certos encontros de acaso
porque deixamos de saber dos outros
coisas tão elementares
o próprio nome
Ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância deixaste
o coração?»
José Tolentino Mendonça
de "A Que Distância Deixaste o Coração"
( Anos 90 e agora
uma antologia da nova poesia portuguesa ) ,in poesias_e_prosas
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Nada do mundo mais próximo
mas aqueles a quem negamos a palavra
o amor, certas enfermidades, a presença mais pura
ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância da língua comum deixaste
o teu coração?»
A altura desesperada do azul
no teu retrato de adolescente há centenas de anos
a extinção dos lírios no jardim municipal
o mar desta baía em ruínas ou se quiseres
os sacos do supermercado que se expandem nas gavetas
as conversas ainda surpreendentemente escolares
soletradas em família
a fadiga da corrida domingueira pela mata
as senhas da lavandaria com um "não esquecer" fixado
o terror que temos
de certos encontros de acaso
porque deixamos de saber dos outros
coisas tão elementares
o próprio nome
Ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância deixaste
o coração?»
José Tolentino Mendonça
de "A Que Distância Deixaste o Coração"
( Anos 90 e agora
uma antologia da nova poesia portuguesa ) ,in poesias_e_prosas
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dados biobibliográficos
José Tolentino Mendonça nasceu em 1965 na ilha da Madeira (Machico). É licenciado em teologia e doutorado em Ciências Bíblicas. É capelão da Universidade Católica de Lisboa, onde dá aulas de teologia bíblica. Sobre a sua vocação religiosa já confessou que "foi uma coisa de juventude, inconsequente, imprudente, inesperada, que eu procuro manter. Ser padre é um nomadismo interior constante. É aceitar a pobreza como condição. E a pobreza é uma coisa chata de viver. É achar que isso pode ser uma forma de dizer alguma coisa ao seu tempo". Publicou vários livros de poemas (Os dias contados, S.R.T.C./Madeira, 1990; As estratégias do desejo, Ed. Cotovia, 1995, Longe não sabia, Ed. Presença, 1997; A que distância deixaste o coração, Ed. Assírio e Alvim, 1998; Baldios, Ed. Assírio e Alvim, 1999 De igual para igual, Ed. Assírio e Alvim, 2001 e A Estrada Branca,2005 Assírio & Alvim,). Escreveu, entre outros, o ensaio "As Estratégias do Desejo: Um Discurso Bíblico sobre a Sexualidade", Livros Cotovia (1994), traduziu o "Cântico dos Cânticos" (1997). É autor da peça de teatro Perdoar Helena, Assírio & Alvim, 2005.
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