23/03/2007

2. Meu corpo é agora um barco



Sento-me no banco
do pequeno largo -
o vento arredonda
os meus sobressaltos
e perde-se no ar.
O dia arde ainda na copa das árvores,
nas asas dos pássaros,
nos olhos dos velhos
perdidos no tempo -
meu corpo é um barco
ancorado na luz.
Poema de António Simões ,1999.
Legendas Íntimas de Augusto Mota.

22/03/2007

como há 32 anos atrás ...


... hoje ,dia 21 de Março de 2007 ,o Palácio das Varandas comemora o regresso da Primavera e o Dia Mundial da Poesia!

Versos de Fernando Miguel Bernardes,
ilustração e composição de Augusto Mota.

19/03/2007

De Que Fala o Silêncio


O tempo é anterior a ti, a mim, a nós,
e nada está escrito, excepto essa interioridade
que habita a inocência das palavras,
consumando o corpo, o seu início, o seu extremo,
deixando o espírito intacto para fruir
esses momentos puros, primordiais,
nessa abertura,
lâmpada rútila, navio eloquente, frémito intacto,
chama preciosa que, de outra forma,
tudo diz, tudo revela,
no tempo esquecido, no tempo sem tempo,
entre a magia e a volúpia,
no luar, no silêncio,

no tempo das clepsidras esquecidas.
Maria do Sameiro Barroso, in "Meandros Translúcidos", 2006.
Legendas Íntimas de Augusto Mota.

11/03/2007

A Flor de Mil Pétalas




Abres a porta à procura da luz -
Um galo canta no cimo da hora,
e tu estremeces e agitas as sombras,
e a luz foge para longe.
Abres a porta à procura do nada:
um rato rói a alma por dentro,
e tu estremeces e agitas o vento -
e o nada foge para dentro de ti.
Abres-te para o verde cantante das searas:
uma cobra rasteja por entre os caules,
e estremeces de novo,
e a água foge da tua sede -
é então que ao pé da luz,
a sombra se casa com a água,
e a seara cresce desmedidamente,
e os deuses riem dos gestos dos homens,
confusos demais para abrirem caminhos -
contudo, sem que eles o saibam,
lá no fundo da sua alma,
num recanto obscuro da mente,
uma pequena flor começa a ganhar raiz -
ela vai crescer para todos os lados
e atravessar o mundo e o próprio universo:
e homens e deuses e pássaros e pedras
e árvores e asas e campos e casas
e pontes e portas, senhores e servos,
e tudo o que mexe e o que fica imóvel,
e tudo o que fala e tudo o que cala
são as pétalas infinitas dessa flor.
António Simões, inédito. 9 de Fevereiro de 2002.
Escrito entre a vigília e o sonho, numa tarde mágica dos campos do Louredo.
Legendas Íntimas de Augusto Mota.

06/03/2007

ser livre


Felizes decerto os que se descobriram na evidência de um valor, transposto à essência de si mesmos, para lá do valor primeiro de serem em autenticidade, ou seja, de serem livres. A nós coube-nos apenas essa liberdade e não aquilo em função do qual ela existisse. Mas em torno dela se reorganiza a dignidade de nós, a afirmação esclarecida de nós, contra quem no-la queira entenebrecer. Aí fundamos a nossa cultura, aí fundamos o nosso modo de sermos livres.
Vergílio Ferreira.
Legendas Íntimas de Augusto Mota.

02/03/2007

entardecer

Poema de Carlos Alberto Silva
com fotografia e composição de Augusto Mota

As Árvores Crescem

As árvores crescem
ouço-as respirar
quando o crepúsculo
desce
no estremecimento sem fim
dos primeiros pássaros
depois é o sono
a pedra nocturna
dos anjos
essa vaga caligrafia
de sinos submersos
sob as pálpebras
percursos tão vários
do esquecimento
Luís Serrano ,in "Antologia da II Bienal de Poesia de Silves, 2005".