29/05/2008

Eu Também Não!

Socrateando…ou como a filosofia da “banha da cobra” nos pode enganar!

Numa esplanada na praia do Vau, perscrutando o horizonte desse mar infindo, aqui me encontro inquieta, volteando, filosofando, socrateando…
Como é que Portugal, um país tão afortunado em paisagens idílicas e até com alguns recursos naturais, persiste, ao longo da História, em caminhar para o precipício? Há um qualquer feitiço, um destino nefasto que nos persegue desde sempre…talvez um país que nasce da revolta de um filho contra a própria mãe, não augure nada de bom e o fantasma da D.Teresa, mãe de D.Afonso Henriques, ainda nos amaldiçoe …!
Para mim, já se torna difícil encontrar uma explicação lógica e racional para esta auto-destruição que insiste em nos afundar. Vários autores o têm tentado explicar, como por exemplo, Eduardo Lourenço na sua obra fabulosa “O Labirinto da Saudade - Psicanálise mítica do Povo Português” e até mais recentemente José Gil, no livro ”Portugal hoje – o medo de existir”. Mas afinal onde está o busílis da questão – em quem nos governa ou no povo? Não são afinal os governos constituídos por portugueses? Talvez o país precise de ir ao psiquiatra, deitar-se no divã e sujeitar-se a uma psicanálise profunda que o trate, regenere e acabe de vez com esta inércia que o amolece e impede de “pegar o touro pelos cornos”, em vez de continuarmo-nos a lamentar, cochichando pelos cantos, assistindo impávidos e serenos à destruição do nosso património paisagístico, ambiental e das nossas actividades ligadas ao mar e à terra.
Deixemo-nos de vez de procurar salvadores da pátria, emergentes ao longo da História – afinal o rei D. Sebastião teima em não aparecer numa manhã de nevoeiro, o Prof. Cavaco Silva que reinou num período de prosperidade económica, que fez e que faz agora pelo País? E agora o Eng. José Sócrates, a quem os portugueses concederam maioria absoluta, esperando por milagres, constatam afinal que as rosas no regaço da campanha eleitoral não se transformaram em pão, mas sim em presentes envenenados, tais como: aumento desenfreado dos combustíveis, mais desemprego, mais pobreza e onde as desigualdades sociais já superam as dos E.U.A … já há quem pense em trocá-lo pela Dr.ª Manuela Ferreira Leite – esta agora sim, a pessoa ideal, e então onde está essa memória curta que os fez esquecer que também ela já governou e mal… onde como ministra da educação foi um autêntico desastre … para outros o salvador possível seria o Dr. Alberto João Jardim – pois claro, neste reino do faz-de-conta em que já se vive, só falta o bobo-mor da corte para a palhaçada ser completa… Deixemo-nos de ser belas-adormecidas, esperando o beijo milagroso do Príncipe Encantado, que após eleições se transforma num sapo feio e mentiroso…
Olho novamente para o mar… está mais revolto e cinzento, acompanha o meu estado de espírito… os novelos de espuma morrem na areia como alguns dos meus sonhos se esboroaram no tempo… mas olhando as crianças, despreocupadas e felizes, brincando à beira-mar, ainda tenho esperança que agarrem o futuro, tirando o país desta letargia, dignificando-o e devolvendo o verdadeiro significado à palavra Demo-cracia.


Luísa Penisga Gonzalez, Membro pelo B.E. na Assembleia Municipal de Portimão

PS - hoje, via email, recebi da minha amiga, de longa data, e conterrânea, Luísa Penisga, este artigo que publicou no Jornal Barlavento.
Não sou, como ela ,do BE. Sou militante do PS.
Tal não me impede, porém, de ser crítica em relação a algumas posições do PS, de concordar com algumas pessoas que, militantes e/ou simpatizantes de outros Partidos, ou não, pensam pelas suas próprias cabeças.
Partilho, convosco, o texto que a Luísa me enviou.

-gabriela rocha martins.

28/05/2008

entre as colinas da memória

A verde escrevo o sol que escorre pelas minhas mãos e tudo se dilui na saudade de infinito e nos desejos dos olhos claros da madrugada. Antes fosse um poema que perpetuasse os segundos que em mim ardem como bicos aguçados que sangram os lábios e a dor do futuro. Mas futuro é o presente que arde e sente, que fere e pressente o rosto que acaricia um horizonte de mãos entre as colinas da memória.

Se o futuro é cada segundo que hoje vivemos, que se eternize o júbilo da sagração e se festeje cada gesto como dádiva sequiosa que inunda o corpo e percorre, em êxtase, os caminhos da cidade sitiada.

Sobre as colinas de Jerusalém dormem as mãos e a boca dessa memória renascida das cruzadas, dessas lutas sem inimigo, desse esvair por dentro do passado sem futuro, ou do futuro sem presente. De qualquer modo sentem-se e pressentem-se as mãos que ardem entre as colinas da memória, agora rejuvenescida, e sentem-se e pressentem-se as lágrimas que escorrem entre os dedos do dia que amanhece. Serão contas, talvez, de um novo rosário de feitiços e encantamentos.

Um outro sufrágio das mãos ritualiza, agradecido, uma nova religião de gestos em oferenda. O oficiante está pronto para as trindades do amanhecer!


Texto de Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.

27/05/2008

o poeta

x .o poeta

é um velho amante crucificado em cruz de lata
que não sabe de onde veio nem para onde vai

é um corsário
um chulo
um prostituto
um canalha
que à noite se deita com a Poesia
e
de manhã brinca com as palavras
deixadas a marinar no riso dos deuses imortais

.
.
.

........
....... um pássaro voa em azul
.... um poeta veste.se de silêncio

.sobram palavras

_______________
poema de gabriela rocha martins
telas de nicoletta.

25/05/2008

Fados dos Quatro Elementos


Fado de Água
Ó fado da minha mágoa
Não apresses o meu fim –
Vou cantar-te fado de água:
Lava a dor que trago em mim.

Lava e leva o sofrimento
Para longe dos meus passos,
Como se fosses o vento
Soprando entre os meus braços.

Ó fado de cada dia,
Em que minha alma procura,
Quando a manhã principia,
Novo amor, nova ternura.

Mal ouço a fonte cantar
Logo sinto o coração
Sua dor suavizar
Na água dessa canção.

Fado de oiro, fado de água,
Só tu fazes esquecer
Esta ferida lacerada
Que rasga todo o meu ser.

Por isso te cantarei
Para que a dor suavizes,
E onde impera a tua lei
A todos tornes felizes.

Vai correndo, fado de água,
Dentro de mim e por fora,
Faz nascer a madrugada
Quando a noite me devora.




( clicar sobre as imagens para aumentar )

Poema de António Simões, inédito [ Fados dos Quatro Elementos ]
Textos Transversais de Augusto Mota.

20/05/2008

De açafate no braço

Excerto de um poema de Teresa Tudela in "Nas Margens da Poesia"
Fotografia e composição de Augusto Mota.

18/05/2008

1. fados dos quatro elementos

FADO DE AR


Diz-se que o ar não tem cor,
Mas nessa eu não acredito,
Basta olhar, por favor,
Quando é hora do sol-pôr,
Para a cor do infinito.

Ele é a grande redoma
Que envolve todo o planeta –
Se a nuvem ao alto assoma,
Voa a águia e voa a pomba,
E também a avioneta.

Eu vou pegar num balão
E enchê-lo num momento –
Ponho lá o coração,
Vai leve como o balão
Para onde for o vento.

Quando ao pé de mim escuto
O teu brando respirar,
Na paz do nosso reduto
Há silêncio absoluto,
Fica à escuta o próprio ar.

Dos elementos és rei,
Desses quatro principais;
Mal eu nasci, respirei,
Ó ar, sem a tua lei
Ninguém vivia jamais.



Poema de António Simões ( inédito )
"Fado", quadro de José Malhoa.

14/05/2008

Textos Transversais


de INFINITO SINGULAR

“Diferentemente dos deuses que sempre falaram ao homem, os textos não falam; acrescentam-se às coisas, tornam-se coisas. Engendram novos espaços para novas coisas. Ou melhor: eles falam, mas o que dizem logo se condensa, ou numa excessiva legibilidade de que só podemos suspeitar, ou numa ilegibilidade que nos obriga a um exercício de decifração que, não raramente, nos conduz a pouco mais do que à premonição de um silêncio que não é uma forma de ser, mas apenas uma espécie de mudez, de afasia.”

in Magalhães, Rui - «INFINITO SINGULAR: Sobre o não-literário»,
cap. Discurso e silêncio do texto, p. 78, ed. Textiverso, Leiria, 2006.
Textos Transversais de Augusto Mota.



13/05/2008

Dentro de momentos toda a verdade

Poema de manuel a domingos, in Antologia da III Bienal de Poesia de Silves//"Nas Margens da Poesia"
Fotografia, manipulação cromática e composição de Augusto Mota.

11/05/2008

abafado no desassossego

excerto de a rosa iniciática in «I Antologia de Poetas Lusófonos», Folheto Edições & Design, Leiria, 2007

Poema de gabriela rocha martins
Fotografia e composição de Augusto Mota.

10/05/2008

infinito branco

in A CHUVA NOS ESPELOS, ed. Alma Azul, 2008

Poema de Maria Azenha
Fotografia e composição de Augusto Mota

08/05/2008

Minha mãe amassa...




( clique sobre as imagens para aumentar )
Poemas de António Simões
Fotografias e composições de Augusto Mota [ da série Minha Mãe Amassa ]

05/05/2008

a litania do azul

Em nosso peito abre-se a rosa azul do prazer que habilidoso jardineiro cultivou em suas experiências de vida e de morte. Assim se libertam as sensações como pétalas caídas no chão que havemos de percorrer em sublime litania. Assim beijamos as pétalas azuis e sentimos um frémito avançar sobre o corpo todo e uma maré de recordações enrubescer as mãos e os pés.
Caminhar agora é difícil. Voar seria a deslocação apetecida. Pairar sobre o jardim das rosas azuis a satisfação plena de nossos desejos.
Tanta energia consumida a tirar, primeiro, os espinhos!
Resta-nos, por hoje, um punhado de pétalas azuis que, sôfregos e sofredores, agarramos bem com ambas as mãos e lançamos ao vento pela janela aberta da nossa desilusão.
Que cada porção de azul se multiplique em fértil terreno e melhores emoções germinem apetecidas em nossas bocas! As mãos, assim, ficarão mais quentes e, agradecidas, colherão as primícias desse jardim, para depois saborearmos o perfume azul da nova botânica.
Tal jardim será o constante renovar dos olhos e das mãos em apoteose.
Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.