05/05/2008

a litania do azul

Em nosso peito abre-se a rosa azul do prazer que habilidoso jardineiro cultivou em suas experiências de vida e de morte. Assim se libertam as sensações como pétalas caídas no chão que havemos de percorrer em sublime litania. Assim beijamos as pétalas azuis e sentimos um frémito avançar sobre o corpo todo e uma maré de recordações enrubescer as mãos e os pés.
Caminhar agora é difícil. Voar seria a deslocação apetecida. Pairar sobre o jardim das rosas azuis a satisfação plena de nossos desejos.
Tanta energia consumida a tirar, primeiro, os espinhos!
Resta-nos, por hoje, um punhado de pétalas azuis que, sôfregos e sofredores, agarramos bem com ambas as mãos e lançamos ao vento pela janela aberta da nossa desilusão.
Que cada porção de azul se multiplique em fértil terreno e melhores emoções germinem apetecidas em nossas bocas! As mãos, assim, ficarão mais quentes e, agradecidas, colherão as primícias desse jardim, para depois saborearmos o perfume azul da nova botânica.
Tal jardim será o constante renovar dos olhos e das mãos em apoteose.
Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.

1 comentário:

lupuscanissignatus disse...

o corpo

coroado

de pétalas




Belo texto. Perfumado.

Abraço.