Em nosso peito abre-se a rosa azul do prazer que habilidoso jardineiro cultivou em suas experiências de vida e de morte. Assim se libertam as sensações como pétalas caídas no chão que havemos de percorrer em sublime litania. Assim beijamos as pétalas azuis e sentimos um frémito avançar sobre o corpo todo e uma maré de recordações enrubescer as mãos e os pés. Caminhar agora é difícil. Voar seria a deslocação apetecida. Pairar sobre o jardim das rosas azuis a satisfação plena de nossos desejos. Tanta energia consumida a tirar, primeiro, os espinhos! Resta-nos, por hoje, um punhado de pétalas azuis que, sôfregos e sofredores, agarramos bem com ambas as mãos e lançamos ao vento pela janela aberta da nossa desilusão. Que cada porção de azul se multiplique em fértil terreno e melhores emoções germinem apetecidas em nossas bocas! As mãos, assim, ficarão mais quentes e, agradecidas, colherão as primícias desse jardim, para depois saborearmos o perfume azul da nova botânica. Tal jardim será o constante renovar dos olhos e das mãos em apoteose. Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.
1 comentário:
o corpo
coroado
de pétalas
Belo texto. Perfumado.
Abraço.
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