30/12/2016

Texto transversal

 
 
 
 
 
 
 

22/12/2016

Rosário breve

 
 
PALAVREADO  COM  DISCRETO  REMATE  PESSOANO
  
1. A páginas tantas da sua «História da Literatura Portuguesa», Teófilo Braga cita um tal “Caro”. Trata-se talvez (não tenho a certeza) de Elme-Marie Caro (1826-1887), filósofo francês que escrevinhava na célebre «Revue des Deux Mondes». Nesse trecho, depois de enumerar os degraus da tomada de auto-consciência da humanidade (que se desanimaliza instituindo a família, a lei da cidade, a domesticação das espécies animais e das forças da Natureza), acontece uma ressalva notável: “(…) a civilização expulsando a barbaria, mas experimentando retrocessos terríveis desta barbaria, como por uma espécie de lei de atavismo que acorda, segundo nos dizem, de tempos a tempos no homem, os instintos ferozes de avós desconhecidos.”
Anotei a passagem, que agora dou à publicidade por partilha convosco. Para mim, são palavras que vingam pela infeliz actualidade: como se os séculos XIX & XXI se mesclassem os idênticos algarismos romanos por que são nomeados. Veja-se isto da Alemanha, mesmo agora: outro camião, outro assassino, outras vítimas mortais; isto da Turquia, com um assassinato em directo à hora da janta; isto tudo da Síria há tantos anos/séculos. Há pouquito, o Vietname, El Salvador, o Iraque, o Afeganistão, Timor-Leste – e mais uma imparável carrada de etc.
Não acho nada que a religião tenha a ver com isto. Trata-se do costume: petróleo, diamantes, narcóticos & matérias-primas essenciais ao forno devorador das grandes produções e dos consumos multitudinários. Trata-se da voragem do Poder, enfim. Deus, chame-se ele Alá ou Jeová ou Manitou ou Zeus ou Júpiter ou Inti ou Rá ou o Diabo por eles todos, pouco é para aqui chamado. Não alimento quaisquer ilusões quanto a isto. E não, não vou com o Pai Natal ao circo.
 
 
2. Então vou aonde? Vou, como os marinheiros fazem ao barco, pôr ao largo o coração. Como o que matou Bruce Lee não foi a brucelose, é descontraído que atiro as passadas aeróbicas rumo à minha doença favorita: ver o mundo local com olhos de lápis. É sempre maravilhoso. Exemplo imediato: passagem do Serafim das Arrufadas a bordo de um transatlântico novo – o titanic do dia é uma brasileira egressa de Goiás que ele conheceu durante um Sporting-Arouca ali naquele alterne logo a seguir às bombas da Repsol, vocês sabem e estão mesmo a ver. Adoro ver o desplante de satisfação reverberando nas trombas do Serafim: de Rôsemére do lado direito & a tilintar do esquerdo o porta-chaves do Mercedes importado de Frankfurt em sétima-mão (como a Rôsemére, aliás – digo: a sétima-mão, não a cidade das salsichas-de-lata). A felicidade é coisa tão pouquinha de tão fácil, pois então não é? O Serafim não é desses lingrinhas dados ao verso-livre ou às maluqueiras da pintura cubista, nem ao dodecafonismo intoleravelmente atonal ou ao polemismo azedo do tal Teófilo Braga. Não. O Serafim é feliz: instituiu família (tem dois filhos da Graciete Cabeleireira e um outro de uma estagiariazita zarolha do Centro de Emprego), domesticou quatro cães, três periquitos, dois árbitros dos Distritais & uma porca para o S. Martinho que vem, anda contente com a nova Loja do Cidadão ao cabo de cinco anos-sant’engrácios, tem pára-raios no canhão da chaminé – todo ele é, enfim, um civilizado. Não é daqueles tristes que, tendo medo da própria sombra, nem sombra de si mesmos chegam a ser. Népias disso. Como ganha a vida com um esquema de facturas-falsas que não dá trabalhinho nenhum & é sempr’àviar, é muito gajinho para singrar na política, tipo presidente-da-junta ou menos.
Quem quiser provas de que só digo a verdade, toda a verdade & nada menos que a verdade, que vá com o Serafim ao circo: mas do flanco esquerdo dele, que à direita vai a Rôsemére navegando.
E é de coração-ao-largo que navegar continua a ser preciso.
 
Crónica de Daniel Abrunheiro, in «O Ribatejo», 22 de Dezembro, 2016
 
Foto obtida na net
Edição de augusto mota
 

16/12/2016

Pressentimentos

 
 
 
 
 
 
 
 

15/12/2016

Café com livros



ÍNDIAS - Vasco da Gama o Herói Imperfeito

 
 
 
Por razões logísticas só hoje é possível uma referência à tertúlia "Café com livros", de 26 de Novembro, p.p., que teve lugar no museu Moinho do Papel, em Leiria. Foi convidado o escritor João Morgado, que veio fazer a apresentação do seu mais recente livro «ÍNDIAS», Vasco da Gama  o herói imperfeito da História de Portugal, edição Clube do Autor, 2016.
 
O escritor já estivera em "Café com livros", em Junho de 2015, para falar do seu livro «VERA CRUZ», a vida desconhecida de Pedro Álvares Cabral (ver, a propósito: http://palaciodasvarandas.blogspot.pt/2015_06_01_archive.html).
 
Rosa Neves, João Morgado e Cristina Barbosa


Cristina Barbosa fez a apresentação do convidado:
João Morgado nasceu em 1965, na aldeia do Carvalho, Covilhã. Formado em Comunicação pela Universidade da Beira Interior, tirou o mestrado em estudos Europeus na Universidade Pontifícia de Salamanca, Espanha. Trabalhou alguns anos como jornalista, tendo colaborado com o diário «Público» e o semanário «Sol». É actualmente Chefe do Gabinete do Presidente da Câmara de Belmonte - terra de Pedro Álvares Cabral.

 
 
 

Actualmente é formador e consultor de comunicação e imagem em empresas e no meio político. Tem publicadas as seguintes obras: Romance - «Diário dos Infiéis», edição Oficina do Livro, 2010; «Diário dos Imperfeitos», edição Kreamus, 2012, Prémio Vergílio Ferreira, 2012. Contos - «Meio-Rico», edição Kreamus, 2011; «O Pássaro dos Segredos», edição Kreamus, 2014, conto ilustrado; «Falstaff e o Vinho de Roda», edição do Instituto do Vinho da Madeira (Colectânea). Poesia - «Colectânea de Poesia Contemporânea da Beira Interior», coordenador e co-autor, edição Kreamus, 2001; «Rio de Doze Águas», co-autor, editora Coisas de Ler, 2012; «Para Ti», edição Kreamus, 2014. Fotografia - «Covilhã e a Estrela», co-autor (Texto), Fernando Chaves (Fotografia), edição Kreamus. Estudo - «Covilhã e a Imprensa - Memórias de um século: 1864-1964» - edição da Associação da Imprensa Diária e Não Diária.  

 
 
 

João Morgado foi ainda o vencedor do Prémio Literário António Alçada Batista 2014, com o romance «Gama - o Herói Imperfeito» e do Prémio Fundação Dr. Luís Rainha / Correntes D'Escritas 2015, com o romance «O Céu do Mar» que o autor considera "uma obra dentro do realismo-mágico. Mais do que o aspecto histórico desta tragédia, centrei-me no sentir das gentes, dos viúvos, dos órfãos, dos jovens que querem ser homens à pressa, na sobrevivência de uma comunidade... e dar-lhe, no final, uma mensagem de esperança, dando um céu a todos os pescadores que não sobreviveram à força do mar bravo."
 
 
 
 Com «Porto de Saudade», uma reflexão sobre a expansão portuguesa, obtém o Prémio Literário de Poesia Manuel Neto dos Santos 2015, obra editada em 2016 pela Arandis Editora, promotora do prémio.

 


A propósito de «Porto de Saudade» afirma o autor: "A alma portuguesa divide-se. No cais fica o seu lado feminino, a mulher chorosa, a pátria. À conquista dos mares parte o seu lado masculino, o marinheiro que mais tarde será o corpo do Império. Resistirá a Pátria aos sacrifícios do Império? Os dois lados saberão co-existir sem matar uma das partes da alma lusitana? Qual o destino de Portugal? Partir? Ficar? Procurar eternamente o seu destino?"

 

Esta tertúlia foi uma bela lição de História, pois João Morgado conseguiu prender o interesse da assistência ao contrapor, com a sua característica vivacidade e uma emotiva narração, as personalidades tão díspares de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.
 
 
Laura Rosário deu, mais uma vez, a sua colaboração a "Café com livros", lendo um excerto de «O Pássaro dos Segredos», memórias do autor sobre o 25 de Abril de 74, quando ainda era uma criança. 
Cláudia Barbosa leu, do livro «Para Ti», o poema «A Luz da Vela»:
 


O fogo dentro de nós era tão forte
   que deu para acender a lareira.
 
Era tão forte o fogo dentro de nós 
   que jurava ser lume para a vida inteira.
 
O fogo dentro de nós era tão forte
   que nos amámos, chorámos e sorrimos.
 
Era tão forte o fogo dentro de nós
   que um ao outro nos consumimos.
 
Recordo a chama de uma vela que ondulando
   pintava a tua cara em aguarela.
Nunca o meu desejo foi tão forte
   nunca tu foste tão bela.
 
Era tão forte o fogo dentro de nós
   e hoje... nem sequer resta a vela!  
 

David Teles, além de um excerto de «ÍNDIAS», também leu dois poemas de «Para Ti», um dos quais - "Palavras" - abaixo se reproduz:
 
 

           Lembras-te? Já fomos
            palavras                                                distantes!
       
          Depois,
            descobrimos que as palavras quase rimavam.
            desejo, beijo... 
          Lembras-te? Fomos então
            palavras ... próximas! 

          Mais tarde,
           as palavras já rimavam mesmo
           e conjugavam verbos a duas vozes 
           desejar, amar...
          Lembras-te? Tornámo-nos 
           palavras-unidas! 

          Com o tempo,
           a emoção baralhava os sentidos
           - tu e eu significavam o mesmo... 
          Lembras-te? Éramos um só corpo de 
           palavrassobrepostas!



 
 
Terminada a leitura de textos e poemas da autoria do convidado e em sua homenagem, seguiu-se a sessão de autógrafos e, por último, o tradicional café com bolinhos, desta vez com a surpresa de haver também castanhas assadas quentinhas e ginjinha caseira!..
             
 

 
 
"Também já tenho o meu livro autografado!"
 
 
 
 
 
 
Por fim um agradecimento muito especial das Trêstúlias a D. Lisete Ferreira, técnica do Moinho do Papel, pela prestimosa ajuda que tem dado a "Café com livros", sempre que a tertúlia se tem realizado neste museu municipal. 
 
Rosa Neves, Lisete Ferreira e filha
      

Voltamos a encontrar-nos em Janeiro de 2017.
Até lá não recusem   
 
                                 Um café quente
 
                                            Um livro fresco
 
                                                     Uma ideia nova 
 
 
 
Edição de Augusto Mota 
 
Fotos de Joaquim Cordeiro Pereira e Rui Pascoal
 
  

03/12/2016

Texto transversal









Lanterna chinesa