11/12/2019

Café com livros






A 32ª edição de "Café com Livros" decorreu no dia 26 de Outubro, pelas 15.15 h, no m|i|mo - museu da imagem em movimento, em Leiria.
O nosso convidado foi Luís Lobo Henriques, Fotógrafo e Professor, com quem estivemos à conversa e que teve a amabilidade de nos guiar pela sua exposição "A obra e as sombras" que desde o dia 21 de Setembro a 3 de Novembro esteve patente na Sala dos Arcos do m|i|mo.

 

 Antes da apresentação do convidado foi feito o  lançamento-surpresa  de uma caneca de esmalte personalizada com os lemas da nossa tertúlia, caneca que logo foi adquirida por muitos dos presentes e que continuará à disposição de todos os tertulianos, enquanto houver exemplares disponíveis. Cada um com a sua caneca  poderá degustar, em futuras tertúlias, o café com bolinhos, ou o chá, ajudando, assim, a dar um precioso  contributo para diminuir a nossa pegada ecológica, evitando os tradicionais copinhos de plástico.



Luís Lobo Henriques veio apresentar-nos o seu trabalho e falar das "Histórias por detrás das Imagens", porque cada imagem é feita de olhar, paciência, perspicácia, persistência. Cada imagem resulta de um jogo de resistência que imobiliza no papel um passado para sempre vivo, mas que só foi possível imortalizar através da fotografia.


 A invenção da fotografia no séc. XIX alterou a perspectiva que a humanidade tinha do mundo. Parecia um milagre conseguir reproduzir uma realidade retida no tempo através do agente imaterial da luz. Pela primeira vez era possível registar o passado sem ser através da escrita e da pintura. A imagem fotográfica deu origem a recordações coletivas e tornou possível o aparecimento de uma nova linguagem que facilitou uma nova forma de comunicação visual.


Já no início do século XX tomou-se consciência de que a fotografia alcançara autonomia e tinha definido uma estética própria.
Existiram altos e baixos no relacionamento entre a imagem fotográfica e a imagem pintada, no entanto a fotografia, enquanto arte, conseguiu evoluir de forma independente e paralela à história da pintura. Com o tempo eliminaram-se as fronteiras entre a fotografia e as artes criativas, a fotografia conquistou a aceitação do público e os grandes fotógrafos fizeram nome com as suas pequenas imagens a preto e branco; o surgimento de estilos diversos fez expandir as possibilidades criativas. A fotografia tornou-se parte da nossa cultura e, tal como os artistas, os fotógrafos também foram procurando novas ideias e formas de expressão.



Os fotógrafos têm a particularidade de, através da sua máquina, nos levarem à descoberta de novas viagens.
E foi isso que Luís Lobo Henriques nos permitiu: uma viagem pela sua exposição "A obra e as sombras" cujas imagens, a preto e branco, nos revelam tesouros da arquitectura mundial.



Há nesta exposição um jogo provocatório de luz e sombra que humaniza as silhuetas; um jogo geométrico de linhas e planos, onde os ângulos deixam de ser apenas o espaço entre duas linhas que se encontram, para se transformarem, aos nossos olhos, em perpectivas de beleza singulares.

  

O olhar do observador sobre "A obra e as sombras" facilmente conclui que o fotógrafo Luís Lobo Henriques tem um estilo muito sóbrio e factual, metódico e sem ser supérfluo. Capta a precisão.
Tal como o escritor abre a sua "história" e dirige o "leitor" para o centro da trama, o fotógrafo Luís Lobo Henriques dirige o observador, sem deixar espaço para que este se perca, desde as suas imagens até ao acontecimento central da fotografia. Assim, incisivo! Sem margem para que o belo passe ao lado do olhar.

 

Luís Lobo Henriques traz-nos o mundo através da sua lente e revela-se-nos um arquiteto de imagens, um pesistente predador de instantes, cujas fotografias são a expressão de um olhar sábio e paciente, mas em constante afinação e desafio... Nesta exposição ele trabalhou com perspetivas e enquadramentos audazes e jogou com as sombras e os reflexos de forma elegante e subtil, mas marcante. Nele é sempre latente a vontade de captar a essência.


A conversa decorreu animada e a visita também. Fomos completando a tarde ouvindo deliciosas histórias que sublinhavam os momentos e as condições em que as fotografias foram tiradas e que contribuíram para compreendermos melhor cada imagem, cada pormenor da fantástica exposição "A obra e as sombras".

Obrigada Luís, desejamos que continues a trazer-nos o mundo...

E, assim, em ambiente de boa disposição, terminou mais um "Café com livros". Voltaremos a encontrar-nos em Janeiro do próximo ano.

Até lá não recusem

                               um café quente

                                                       um livro fresco

                                                                                   uma ideia nova




Texto de Rosa Neves

Fotos de Augusto Mota e Joaquim Cordeiro Pereira

Edição de Augusto Mota


Obs.: As 3 fotos de Luís Lobo Henriques foram captadas em Luis Lobo Henriques Photography / Facebook

02/11/2019

Texto transversal










25/10/2019


MARAFONA DE SANTA CRUZ






Uma curiosa recordação de MONSANTO (a Aldeia mais Portuguesa): Boneca de trapos, feita a partir de uma cruz. Simboliza a Deusa Maia, deusa da fecundidade.
Não tem olhos, nem boca, nem ouvidos, porque é deitada debaixo da cama dos noivos na noite de núpcias para trazer boa sorte e filhos.
É deitada em cima das camas nos dias de grandes tempestades e trovoadas, para as afastar.


(Texto que acompanhava a boneca, obra da artesã Maria Alice Gabriel, especializada em miniaturas de ADUFES e de MARAFONAS para prendas de casamento).

 

06/10/2019

5 de Outubro de 1910


PÁTRIA E LIBERDADE







Cartaz alusivo ao 5 DE OUTUBRO DE 1910, impresso litograficamente em cartolina com as dimensões de 52 x 40 cm, sendo a mancha impressa de 51 x 39 cm. Em baixo, à direita, na estreita cercadura branca, fora da mancha de cor, a indicação: EDIÇÃO DA CASA NOVAES. Também em baixo, mas à esquerda, um pequeno círculo de 4 mm de diâmetro, com alguns sinais não decifráveis, talvez pretendesse ser a marca da casa impressora. Na parte de trás, ao centro, um carimbo com 5 x 35 mm, em letras maiúsculas, refere: DEPOSITADO.
Este cartaz, pertença de um amigo, ainda se encontrava com a moldura da época, já carunchosa, e, felizmente, só com três pequeníssimos furos da traça do papel na cartolina. Dada a dimensão do cartaz, esta imagem é uma fotografia e não uma digitalização. E os pequenos furos da traça do papel foram devidamente retocados.


Edição e foto: Augusto Mota


11/09/2019

Café com livros 






Decorreu no dia 11 de maio de 2019, em Leiria, no auditório do m|i|mo - museu da imagem em movimento, mais uma edição de “Café com livros”. A convidada foi  a professora Helena Pato,  um dos rostos femininos da resistência à PIDE,  que contou na primeira pessoa o que foi  viver o tempo da clandestinidade, da tortura e da prisão. O seu livro A Noite Mais Longa de Todas as Noites é um testemunho da resistência ao Estado Novo e da luta pela Democracia em Portugal.


      
       Helena Pato nasceu em Mamarrosa, Aveiro, em 1939.
Licenciada em Matemáticas, dedicou a sua vida profissional ao ensino e à formação de docentes, tendo mesmo publicado livros, trabalhos e estudos, no âmbito da Pedagogia e da Didática da Matemática. Coordenou Suplementos de Ciência e de Educação em jornais diários. 
Foi dirigente da Associação da Faculdade de Ciências de Lisboa, e dirigente política da CDE, de 1969 a 1973. Em finais da década de 60, foi uma das fundadoras do Movimento Democrático de Mulheres. 
 


 No início da década de 70, fez parte do núcleo de professores que criou e dirigiu os Grupos de Estudo do Pessoal Docente e fundou os primeiros sindicatos de professores nascidos em 1984. Pertenceu às primeiras direções do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa.
Durante duas décadas militou ativamente na Resistência ao regime fascista. Esteve no exílio durante três anos, foi presa e detida várias vezes pela polícia política.


Helena Pato viveu, sofreu, lutou por ideais quando era proibido ter ideais; falava bem alto, quando era preciso calar; calava quando a queriam obrigar a falar… Tudo isto teve um preço, que ela nunca se recusou a pagar… O seu livro «A Noite Mais Longa de Todas as Noites» é um registo impressionante que nos remonta não só à “noite longa”, mas também aos dias longos de um Portugal cinzento e pobre.  



 A escritora Maria Teresa Horta escreveu no prefácio deste livro as sábias palavras que se transcrevem:
  Uma escrita luminosa

           A noite Mais Longa de Todas As Noites é um livro que deve ser lido, degustado com cuidados de saber, a tomarmos o gosto á escrita luminosa de Helena Pato, que página após página nos vai contando-mostrando o longo e corajoso caminho da resistência portuguesa, de que fez parte activa, contra a ditadura fascista. Luta de tantos e tantos anos, que acabaria por nos levar até ao 25 de Abril…
 à liberdade.
        Obra de uma precisão exemplar e simultaneamente de uma beleza límpida no seu veio narrativo, tessitura de recordações assumidamente pessoais embora arreigadamente políticas, já que Helena Pato nelas se debruçou para narra-las, quer através da sua própria experiencia, quer da memória colectiva das últimas décadas do fascismo em Portugal. 
         A noite Mais Longa de Todas As Noites é pois uma obra tecida com o fio do júbilo dos ideais, mas igualmente com os acontecimentos vividos no nosso país. Então asfixiado por uma longa, cruel e impiedosa ditadura. Sendo tudo isto elaborado com uma vivacidade e uma argúcia que nos leva a lê-la até chegar ao fim, para logo desejar tornar ao seu começo.
        E foi assim que fui seguindo, uma após outra, estas memórias políticas, como a certa altura a sua autora sublinha.
          Luta após luta, após luta,
         coragem após coragem, após coragem, sem que Helena Pato alguma vez se auto-elogie ou de alguma maneira se enalteça; sempre inteligente e frontal por vezes utilizando mesmo um discurso que pode aqui e ali perpassar pela auto-ironia, assim como por um espontâneo e genuíno entusiasmo.
        Quanto a mim, aliás, esta é uma das facetas mais fascinantes, mais belas e até mesmo comoventes de A noite Mais Longa de Todas As Noites. Pois Helena Pato ao relatar a sua total entrega à Resistência fá-lo com uma intensidade tranquila, uma quase “alegria serena” e jamais enquanto heroísmo, cerração ou sacrifício.
         Desta viagem ao passado, sobressai o olhar frontal, tal como o envolvente e revolvido prazer num entrançar-desentrançar de emoções, numa tessitura de memórias de prisão, de tortura, de censura que, hoje, continuam a atormentar-nos, a “apunhalar-nos”, fazendo-nos gelar o sangue. Tempos de negrume, até onde a escrita de Helena Pato nos leva, coração apertado,
         a reconhecermos aquela difusa mas persistente rosa do sonho, que jamais  - mesmo durante o período do terror mais negro – deixou de bater do lado esquerdo do nosso peito em sobressalto.
           Apesar do medo e da revolta, da escuridade e do desespero, de tal forma que por vezes, de madrugada, ainda hoje nos assola a angústia: olhos de súbito abertos no escuro, como quem espera a “visita” da Pide, que às seis da manhã, tinha por hábito bater-nos à porta, a entrar-nos casa dentro, para revolver em seguida na devassa, durante horas.
         E a escrita solar de Helena Pato é exímia em mostrar-nos, tantos anos depois, marcas ferozes tal como as feridas que ainda supuram, a deixar-nos cicatrizes na alma.
         Coerente, lúcida e corajosa, A noite Mais Longa de Todas As Noites é uma obra empolgante na sua serena frontalidade. Recordações onde não se iludem os medos nem as dúvidas, dando-nos a ver, paralelamente, a coerência, o entusiasmo e a entrega, sempre com a esperança murmurando ao nosso ouvido,
           a fazer-nos entender com naturalidade o arrojo, a coragem e a dádiva pessoal, enquanto componentes inseparáveis e naturais da luta por um ideal maior.
            Pois maior que tudo o resto, irá ser sempre e para sempre: 
             a entrega ao sonho,
                                                 a sede de liberdade.


Maria Teresa Horta 
           Lisboa, 15 de Abril de 2018

Foi com simpatia e tranquilidade serenas que Helena Pato falou do seu passado de Resistente. Quem esteve presente ouviu falar da cumplicidade entre os Resistentes; dos ideais comuns; dos limites da loucura; dos estratagemas de luta; das angústias familiares, dos algozes… 

 

Helena Pato, professora, é toda ela uma aula da história recente. Foi um privilégio tê-la entre nós, ouvi-la foi um crescendo de interesse e admiração por toda uma geração que lutou por um país democrático e livre.
      E com a tradicional foto, para memória futura, terminou mais um "Café com livros". Esperamos por vós na próxima tertúlia. Até lá não recusem

um café quente

                             um livro fresco

                                                            uma ideia nova    
  



Texto de Rosa Neves
Fotos de Joaquim Cordeiro Pereira
Edição de Augusto Mota