03/03/2006

A Lua na Montanha

A lua era toda a sua voz, junto ao Marão,
a montanha de gelo, a albergar brisas divinas.
À noite, a lua era Deus, e a voz da montanha
ecoava em S. João de Gatão, onde a Senhora do Céu
descia, envolta em palavras leves.
Em seu regaço de oiro Deus repousava
e a sua face lívida ainda Teixeira de Pascoais escutava,
derivando para a distância, onde a saudade ecoava.
No céu, estendiam-se constelações silenciosas.
Na montanha, as brisas cristalizavam,
como a voz do Poeta, quando a noite é mais funda
e a Senhora da Noite vela,
humedecendo as palavras que do seu regaço azul
emanam ainda frescas, odorosas,
em florescentes arquipélagos.
É neles que a sua palavra acorda, com suas membranas
de névoa.
No seu coração imune, a música respira,
junto às sílabas suaves que harmonizam dissonâncias.
Os dias tornam-se então longos, opalescentes,
porque a Primavera nasce e, com ela, a palavra,
celebração sagrada das brisas que circulam,
leves, carregadas de aromas.
O céu é então a expressão da poesia e o mar,
na extensão da sua presença viva.
Nas membranas da memória, os seus sons reavivam-se.
Nos pássaros, no seu coração ardente, a luz inflama-se,
numa paz luminosa que no silêncio consuma
o que à dor e ao mundo,
em sua harmonia resguarda.
Maria do Sameiro Barroso*, in "Homenagem a Teixeira de Pascoais", Lisboa.
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* Amanhã, a partir das 14h30, no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, Tarde Poética, com muita música, poesia e palavras.
Maria do Sameiro Barroso, na presença de António Ramos Rosa e mulher, Júlio Machado Vaz, Isabel Wolmar e muitos mais, fará o lançamento do seu livro de poesia "Meandros Translúcidos". Se gosta de Poesia e de Música, apareça.

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