24/03/2012

um rasgo de mulher sentada dentro da chuva*



sairei porta fora com um saco de poemas
na mão e
deixá.los.ei à porta do primeiro vagamundo
que encontrar certa de que com eles cobrirei
o ruído deixado pelos carros que percorrem
a marginal dos sonhos
por vezes acho.me num torvelinho de entrar
vida a dentro trocando ditames por um pedaço
de ilusão ou
prendo.me à sombra de um regaço se o fio de
água que escorre de uma nuvem me deixar
fixa na figura que se esvai esguia em solidão
sou um murmúrio apodrecido no vento suão
ou um pássaro que segreda a um ouvido a
última balada que um dia há.de compor
diagnostico.me como uma palavra prenha de
alarmes e escorrego por uma brevíssima gota de
água ao encontro das marés vivas
há sinais de passos oblíquos no asfalto molhado e
a ignomínia da dor provoca.me um sentimento
intransponível de tristeza maior é ( então) que
acendo um cigarro na labareda do anoit'ser
antes de parir
o último poema vomitado por Cronos

um pássaro amarelo desfeito em escamas
cola.se ao meu silêncio


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*poema inserido na Antologia “100 Poemas para Albano Martins” ,da Editora Labirinto


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