Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor
que não se sabe como é feita: amor,
na quintessência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar
a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,
verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.
Carlos Drummond de Andrade
in «FAZENDEIRO DO AR & POESIA ATÉ AGORA», Livraria José Olympio Editora,
Rio de Janeiro, 1955, capítulo Fazendeiro do Ar, p. 519.
Foto: Augusto Mota / centro de um Lírio-aranha (Hymenocallis festalis)
1 comentário:
Muito bonito o "poema".
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