Naquele pic-nic de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.
CESÁRIO VERDE, in «O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL», 1880.
Este poema dedicado a Guerra Junqueiro, é intitulado «De Tarde» na edição de Silva Pinto.
Fotos: Augusto Mota, obtidas numa bordadura de papoulas nas margens do rio Lis, zona de Monte Real.
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