21/12/2014

Fotopoema











19/12/2014

Texto transversal








Texto transversal







17/12/2014

Texto transversal









30/11/2014

de «Cronicão»



ESTUPIDEZ





Divide-se a estupidez em dois géneros. No primeiro caso, está aquela estupidez que só faz mal ao próprio. No segundo, a estupidez que, além de fazer bem ao seu portador, dá cabo da vida dos outros.
Todos somos estúpidos, de primeiro ou segundo grau. Tendemos a considerar que a razão sempre nos assiste, o que pode redundar em estupidez de primeiro nível. Se teimarmos muito nessa atitude, passamos com facilidade ao segundo. (Existe ainda, claro, uma terceira estupidez, que é a dos cronistas que pensam ter alguma coisa para ensinar ao mundo.)
Falo nisto hoje porque, tendo acordado um destes dias com a estupidez agarrada à pele como um perfume indesejável, passei o resto do dia a tentar que a estupidez de (alguns) outros não fizesse mal à minha. Foi um dia estúpido, naturalmente. Não o recomendo.
O remédio aparente é tornar-se cada um monge do seu íntimo mosteiro, devoto de um credo autista e misantropo. Sendo autista não (re)conhecer os outros e significando misantropo não gostar de ninguém. Mas é uma falsa cura para uma doença real.
A estupidez tem o futuro garantido. Sobretudo a de segundo grau. Quanto às de primeiro e terceiro géneros, essas não fazem mal a ninguém. Antes fizessem.

Daniel Abrunheiro, in «Cronicão | Gente do Touro de Ouro | Noite de Homens-Cantores», Publicenso - Imagem & Comunicação, Lda., 2003, p. 39

editado por augusto mota 


28/11/2014

Café com livros




A POESIA E    CANTO LÍRICO





No Sábado, 22 de Novembro, teve lugar no auditório do m|i|mo – Museu da Imagem em Movimento, mais um Café com livros, que teve como convidado o tenor figueirense Luís Pinto. Desta vez a sala não encheu como de costume, porque o tempo não convidava muito a sair de casa, mas a tertúlia acabou por ter um carácter intimista, com uma assistência mais à vontade para, no final, colocar diversas e oportunas perguntas de um modo informal ao convidado, o que fez prolongar a tertúlia até próximo das 19 horas.


 
Rosa Neves e o convidado deste "Café com livros", o tenor Luís Pinto

Antes da apresentação do tenor Luís Pinto houve dois momentos prévios dedicados à poesia. O primeiro foi uma evocação do poeta uruguaio Roberto Genta Dorado, falecido no dia 11 do corrente mês de Novembro, evocação feita por David Teles, que com ele conviveu em Montevideu e de quem nos leu 9 poemas, por si traduzidos, da obra «Fractal».
Roberto Genta Dorado nasceu em 1957, em Montevideo, Uruguay. Foi director fundador da Revista "La Crítica" e de "Ediciones de la Crítica". Editou em poesia: "De puño y letra"(1986), "Geometrías y elegías" (1987), "Piedra abierta" (1994), "Caída libre" (1996), "Paraíso Breve" (1999) –  que obteve o Segundo Prémio na categoria de Poesia Inédita do Ministério da Educação e Cultura do Uruguay -, "Punto de Fuga" (2000) - Menção na categoria de Poesia Inédita do Ministério da Educação e Cultura do Uruguay -, "Sangre sucia" (2002) - Menção especial na categoria de Poesia Inédita e Segundo Prémio na categoria de editados (2003) do Ministério da Educação e Cultura do Uruguay-, "Salida de emergencia", Madrid (2004), "Fractal" (2008), "Unplagged" (2009) e "Desapalabrar" (2014). Em 2003 editou o CD intitulado «Amecedario» (editora “Civiles Iletrados”). Em prosa publicou a novela "El cerco", editorial Signos, Montevideo, 1990. 
 
David Teles lê o poema "as palavras não chegam"


as palavras não chegam
para desnudar silêncios

para tirar os olhos aos pássaros
nem para construir um poema
com destreza

as palavras abandonam-nos

torpes traços
que imprimimos na areia


Roberto Genta Dorado, in «Fractal»

Tradução de David Teles





Um segundo momento foi dedicado à genialidade de Fernando Pessoa, a propósito de se comemorarem, no dia 30 deste mês de Novembro, os 79 anos do seu falecimento. Mercília Francisco fez a leitura expressiva de diversos poemas, com destaque especial para “Tabacaria”, emotivamente encenada e à qual deu a sua colaboração, no momento preciso, a nossa já conhecida jovem tertuliana Laura Miguel. Durante toda a tertúlia estiveram expostas diversas edições de obras de Fernando Pessoa, bem como revistas e objectos relacionados com a sua vida e obra.  

 
Mercília Francisco lê expressivamente "Tabacaria".  A Laurinha vai cumprindo a ordem do poeta...

(…)
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. 
Come, pequena suja, come! 
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) 
(…)


Fernando Pessoa /Álvaro de Campos, in “Tabacaria”
 

A apresentação do convidado foi feita por Lídia Raquel, uma das Trêstúlias: Luís Pinto nasceu em São Julião da Figueira da Foz e iniciou a sua carreira de cantor no ano de 1997, no Festival da Canção Broadway/«Diário de Coimbra», interpretando o tema Granada, do autor e compositor mexicano Agustin Lara. Em 1998 iniciou os seus estudos de canto na Escola de Música do Colégio S. Teotónio em Coimbra, estudos que veio a prosseguir no Conservatório de Música David de Sousa, da Figueira da Foz, nas classes de canto, piano, formação musical e classe de conjunto.

 Lídia Raquel faz a apresentação do tenor Luís Pinto

Foi pelas mãos do músico e compositor Cláudio Valdarnini que, em 2000, fez a apresentação da sua voz em CD, trabalho que, posteriormente, serviu de base ao seu primeiro CD - “O meu sonho italiano” -, editado em 2002 em espectáculo realizado no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz.
Em  2001 a sua carreira internacionalizou-se: Luís Pinto cantou no Teatro da Universidade de Lungomare Dante Alighier, em Erice-Trapani, Itália, tendo representado Portugal na 8.ª Edição do Concurso Internacional Giuseppe Di Stefano, I Giovani e l’Opera.

Mercília Francisco e as "Trêstúlias": Rosa Neves, Lídia Raquel e Cristina Barbosa

Em 2005 nascia um novo álbum discográfico: “Para ti Figueira, com amor” e o primeiro trabalho em DVD surgiu em 2006. Licenciado pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais, este registo intitula-se “Luís Pinto de corpo e alma”. Em 2009 surge a apresentação do seu novo trabalho em CD, “La Donna”, com 8 músicas originais, da autoria de Luís Albuquerque, e 3 covers (músicas já editadas).   Em 2010, Luís Pinto estreia-se como actor cinematográfico no filme “Fugiu Peter Pan”. Desde muito jovem Luís Pinto foi atraído por Itália, a terra onde se canta a língua densa de colorido e de sonoridades. Mas o seu primeiro sonho foi ser futebolista e pisar os palcos do mundo italiano do futebol. Um sonho que, porém, nunca se concretizou. Educado no seio de uma família modesta com ascendentes ligados à profissão de padeiro, Luís Pinto a par do desporto sentiu, desde muito cedo, uma enorme curiosidade pela ópera. Estes passaram a ser os acordes de melodia que mais admirava, muito influenciado pelo grande tenor Luciano Pavarotti. Ao longo do tempo foi descobrindo na canção napolitana um bilhete de identidade eternamente válido. Nela descobriu um sentimento que se conjugava com o mundo lírico e a nobre arte do belo canto. A ópera passou assim a ser alimento contínuo da sua vida. Mas apesar de chegar tarde ao mundo lírico, Luís Pinto mostrou estar muito a tempo de enriquecer a nobreza da sua alma. As músicas italianas que hoje consagram o seu repertório personificam a memória colectiva de um povo. A sua voz robusta e poderosa, o tom e a riqueza interpretativa, fazem com que o tenor Luís Pinto sobressaia hoje pela extensão do registo e expressão da sua voz, assim como pelo seu temperamento apaixonado. (Texto baseado na biografia de Luís Pinto que se encontra na sua página http://tenorluispinto.com/ )
 

Dada a palavra ao convidado, foi de um modo muito natural que Luís Pinto falou de si, da sua vida familiar, do seu gosto pelo desporto, da sua profissão como funcionário administrativo na Câmara Municipal da Figueira da Foz, profissão que tem de compatibilizar com o seu amor pelo canto e com o seu desejo de um imperativo aperfeiçoamento. Informou ainda que, muito brevemente, irá actuar no Luxemburgo, na Catedral de Notre Dame.



Chegou, por fim, o momento da sua actuação com “Nella Fantasia” ("Na minha fantasia"), uma canção cantada em italiano, baseada no tema “O oboé de Gabriel” do filme «A Missão» (1986). Com música do compositor Ennio Morricone e letra de Chiara Ferrau, “Nella Fantasia” é muito popular entre os cantores clássicos, após o seu lançamento em disco, em 1998, pela soprano inglesa Sarah Brighton.

 

Seguiu-se “Nessun dorma” (“Ninguém durma”) a famosa ária do último acto da ópera «Turandot» , de Giacomo Puccini (1926). A ária refere a proclamação da princesa Turandot, determinando que ninguém deve dormir: todos passarão a noite tentando descobrir o nome do príncipe desconhecido, Caláf, que aceitou o desafio. Caláf canta, certo de que o esforço deles será em vão.
 

Por último Luís Pinto brindou os tertulianos com um extra: “Miserere”, do cantor italiano Zucchero, nascido em 1955.  “Miserere” foi o sexto disco deste cantor, lançado mundialmente em 1994. Ainda em 1994, Zucchero e Pavarotti deram início a um projecto idealizado por ambos, "Pavarotti & Friends", que acabou por se tornar um dos mais importantes eventos musicais do mundo. No show, que é realizado anualmente, encontram-se músicos populares e clássicos e o lucro obtido é doado a instituições de caridade.



 


Para mais informações e vídeos sobre Luís Pinto ver a sua página em:
 

Café com livros agradece a todos o contributo da sua presença e participação activa no diálogo com  o nosso convidado. Voltaremos a encontrar-nos no 4º Sábado de Janeiro, em lugar a combinar.


Até lá não recusem:

 Um café quente
 
 Um livro fresco

 Uma ideia nova



Fotografias (excepto a identificada), texto e edição: augusto mota