OS PASSOS EM VOLTA DA MEMÓRIA DE HERBERTO HELDER
Um poeta está sentado na Holanda. Pensa na tradição. Diz para si: eu sou alimentado pelos séculos, vivo afogado na história de outros homens. Contudo, a sua alma é atravessada por um sopro de qualidade original. Tem a alma perdida - é um inocente que maneja o fogo infernal. Abre-se no fundo da sua meditação holandesa um grande lago. A solidão - e em volta passeiam vacas. A Holanda agora é isto: vacas, e ao centro - o inferno, a revolucionária inocência de um poeta sentado.
- Por quem me tomam? - pode ele perguntar. - O que eu quero é o amor.
E sempre assim: cidades inexplicáveis no meio da terra, ou prados imensos onde se tem medo. Prados para vacas, não para um poeta di-la-ce-ra-do por uma tormentosa inocência.
Herberto Helder, in «OS PASSOS EM VOLTA», início do conto "Holanda", p. 17, Portugália Editora, Lisboa, 1963.
editado por augusto mota
- Por quem me tomam? - pode ele perguntar. - O que eu quero é o amor.
E sempre assim: cidades inexplicáveis no meio da terra, ou prados imensos onde se tem medo. Prados para vacas, não para um poeta di-la-ce-ra-do por uma tormentosa inocência.
Herberto Helder, in «OS PASSOS EM VOLTA», início do conto "Holanda", p. 17, Portugália Editora, Lisboa, 1963.
editado por augusto mota
1 comentário:
Incontornável.
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