FADO DE NÃO MORRER
Não morreste, eu não deixei,
De mim não te afastaste.
Obediente à minha leiDe mim não te afastaste.
De não deixar morrer a haste
Da árvore que eu plantei,
E em minha alma tu ficaste.
Os amigos que perdi,
Ao pé de mim sempre vão,
Tenho-os todos aqui, Ao pé de mim sempre vão,
Foi para isso que eu nasci:
Não deixar morrer ninguém,
Nem pai, nem filho, nem mãe.
Batam palmas, ovação,
Que eles bem vivos estão:
Os que se julgam perdidos,
Trago-os presos aos sentidos
Aos gestos do dia-a-dia;
Vejo-os em todo o lado,
Tal como eram outrora.
Por isso canto este fado
Cheio da pura alegria
Onde a vida se demora
E a morte não tem lugar.
Vamos lá todos cantar,
Amigos, chegou a hora
De celebrarmos a vida –
Tudo feito de tal sorte,
Com força tão desmedida,
Que pra longe fuja a morte,
E fique lá esquecida
No mais remoto lugar:
Amigos, vamos cantar!
António Simões
Fotografia e edição de augusto mota
na foto: Cerejeira japonesa (Prunus serrulata 'Kwanzan')
1 comentário:
Bonito e sentido hino à presença constante dos ausentes! Parabéns ao Poeta.
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