05/08/2015

Letra para um fado



FADO  DE  NÃO  MORRER








Não morreste, eu não deixei,
De mim não te afastaste.
Obediente à minha lei
De não deixar morrer a haste 
Da árvore que eu plantei,
E em minha alma tu ficaste.


Os amigos que perdi,
Ao pé de mim sempre vão,
Tenho-os todos aqui,
Foi para isso que eu nasci:
Não deixar morrer ninguém,
Nem pai, nem filho, nem mãe.
Batam palmas, ovação,
Que eles bem vivos estão:
Os que se julgam perdidos,
Trago-os presos aos sentidos
Aos gestos do dia-a-dia;
Vejo-os em todo o lado,
Tal como eram outrora.
Por isso canto este fado
Cheio da pura alegria
Onde a vida se demora
E a morte não tem lugar.
Vamos lá todos cantar,
Amigos, chegou a hora
De celebrarmos a vida –
Tudo feito de tal sorte,
Com força tão desmedida,
Que pra longe fuja a morte,
E fique lá esquecida
No mais remoto lugar:
Amigos, vamos cantar!


                   António Simões 


Fotografia e edição de augusto mota

na foto: Cerejeira japonesa (Prunus serrulata 'Kwanzan')

   

1 comentário:

Unknown disse...

Bonito e sentido hino à presença constante dos ausentes! Parabéns ao Poeta.