A VIDA NUM SOFÁ
O sofá estava ali
De pé!
Mesmo no meio da vida
Esfarrapado, torto, sujo
Olhava-o sempre que passava
E interrogava-me
Sobre se ele estava no centro da vida
Ou a vida se agitava no seu assento.
O sofá morava à beira da estrada
Uma estrada longa...
Longa e veloz
Onde os carros passavam à frente do sofá.
Ao redor, a floresta.
Uma floresta cúmplice das vidas sofridas
Despidas e frias
Sentadas alternadamente no sofá!
Ao lado passava um caminho de terra batida.
Estreito e escondido
Onde se deitavam fugazmente as vidas do sofá.
Em dias de vento
O sofá agitava as mágoas
No esvoaçar do seu tecido esfarrapado
De sofá abandonado
Desbotado e velho.
Eu passava e olhava o sofá.
Um sofá quase nu
Quase vestido de pó.
Eu passava e olhava a mulher.
Uma mulher quase nua
Exibindo o corpo
Quase vestido de tudo
Quase despida de roupas!
Havia dias
Em que o sofá estava só
Desconcertado e triste
À beira do vazio.
Um vazio cheio de ausências
De corpos vendidos à beira da estrada
Almas belas e sós
Condenadas à beira da vida!
Rosa Mar
Edição e foto: augusto mota
foto com manipulação cromática e rotação horizontal
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