A ESTRELA DE ALVA
A ânsia da
espera desbarata as emoções e não deixa
viver o tempo presente que tanto
amparámos entre sonhos e vigílias. A saudade do que se imaginou inventa novos
pretextos para admirar a paisagem que renasce sobre o corpo da memória e a
carícia das mãos.
O silêncio
junta os olhares deitados sobre a planície onde outrora cavalos selvagens
corriam em direcção ao mar e à liberdade. Hoje pouco se avista para além do
cansaço e das intenções que desaguam nas palavras apenas murmuradas.
É Inverno, já.
Sabe bem, por isso, encostar as sensações à aragem fria da tarde e esquecer o
tempo que despimos das obrigações da quadra festiva. A festa, agora, é a dos
sentidos que percorrem a geografia do corpo e traçam novos itinerários para a
descoberta do princípio da vida. Se é a alma que procuramos, ela poderá estar
na ponta dos dedos e na palma da mão onde, em tempo de sonho e júbilo, já
cresceram estrelas.
Agora é nos
olhos que queremos a Estrela de Alva, para com ela avivar e avisar a memória de
tudo quanto iludiu o espaço da viagem e das emoções.
Augusto Mota, texto
33 de «A Geografia do Prazer», exaltação do corpo em viagem pelos continentes
da memória, 2000
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