20/03/2017
19/03/2017
RETRATO DE MULHER PORTUGUESA DOCE
Sinto
e vejo mais que num beijo o teu olhar de portuguesa triste, o amargo das
palavras salgadas escritas na tua face como se fosse uma folha de papel em
branco aguardando as palavras silenciosas e suaves do poema.
Mansa
é a tua dor, a ausência da música, enquanto as árvores balançam no fogo aceso
que adormece no teu regaço, de um sopro da boca moldada na arte dos grandes
ofícios.
O
vento da Toscânia traçou, de lápis afiado, o contorno rigoroso da tua face, a
discreta beleza florentina de olhos perdidos de verde na distância, não sei se
do mar se do rio que nasce sempre, regressando ao vale onde os deuses
acompanharam as curvas do caminho, o teu sorriso, os braços abertos, radiantes
de ternura abraçando o sol.
Que
dizer dos teus olhos doces nos grandes silêncios que acompanham a vida
ternamente, efervescendo, abafando as marcas abertas nas mãos pelos dedos
ansiosos? Serão as estrelas espelhando-se no teu olhar? Um pássaro, pois,
poisou na tua fronte e descansou.
As
marcas do teu sorriso de ternura feito descansam como pássaro no fogo.
Orlando Cardoso
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