06/06/2006

Poemas Antigos

1. Riscos, Rastos, Restos
Escrevo poemas
para me libertar das palavras -
Caminhando de verso em verso,
até exausto cansar-me
e cansá-las,
deixo-as cair depois no chão
como folhas secas
que o vento leva para muito longe
e desfaz no ar.
Como a luz de estrelas há muito desaparecidas
debruando os contornos de minha alma,
cintilantes ainda dessa luz primeva,
aqui as deixo
na orla desta página,
dispostas como uma moldura ardente -
E fico a dançar no centro
até que o anel de fogo se vá estreitando
e eu arda na labareda das palavras -
O que aqui vedes negrejar nos caracteres deste poema
são as nossas cinzas -
Ardemos todos no fogo da emoção,
e o que fica é sempre isto:
uns rabiscos negros,
uns riscos,
uns rastos,
uns restos.
António Simões, inédito.

8 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite, amigo António Simões.
Bem vindo, de novo, ao Palácio. Sabe sempre muito bem lê-lo e relê-lo. Fazê-lo, faz-me regressar aos meus verdes anos de menina. Há uma feminilidade latente nos seus versos. Há uma verdade íntima que é muito intensa.
Obrigada, Poeta!
E lê-lo, ouvindo Serge Reggiani, é um bálsamo.

Anónimo disse...

Um abraço, amigo António Simões!

Anónimo disse...

As palavras que se cruzam. O cansaço transbordando nas palavras. Nas suas, António Simões, e, enquanto as leio pela vez primeira, oiço as de Léo Ferré, tão minhas conhecidas de há tantos e tantos anos – “ La vie d’artiste” – que atravessam em diagonal o entendimento que faço do todo. A lassidão, a exaustão de nós e da vida. “ On ne peut plus vivre de l’air du temps”, “ les belles années passent vite et … on vieilli seul. Je conserve le piano.” - diz Ferré. ” São as nossas cinzas... uns riscos, uns rastos, uns restos.” – A vida dos artistas!

Um abraço comovido

Anónimo disse...

olá, Júlia!
uma pequeníssima correcção que não passou despercebida ao ouvido, bem atento, da Fernanda S. Monteiro ... de facto, não é o Serge, mas sim o Léo Ferré que canta esta canção.
de qualquer modo, muito obrigada - diz o poeta António Simões e eu subscrevo - o que a Júlia escreveu, claro!

que confusão!!!
eheheheheheh

Anónimo disse...

obrigada, Ma'nelcito!

Anónimo disse...

que verdade, tão verdadinha, menina Fernandinha ...

o(s) Poeta(s) agradece(m) ... António e Léo, claro!

ehehehehehe

Anónimo disse...

Palmas também para quem tem a sensibilidade de juntar - tão bem! - as palavras e as ideias destes dois poetas !

" Les beaux esprits se rencontrent! "

bjs.

Anónimo disse...

"toujours!"

beijinhos

( um pouco antes do recolher das amarras )