08/02/2008

omnia vincit amor


"[...] ainda que os antigos beberam primeiro nas fontes, nem por isso as esgotaram: Multum egerunt qui ante nos fuerunt, sed nom peregerunt, diz Séneca [...]"
- Sermão da Conceição Imaculada da Virgem Maria, Padre António Vieira, s.d.
Completaram.se, na passada quarta.feira, dia 6 de Fevereiro, 400 anos sobre o nascimento de António Vieira, mais conhecido, pelo Padre António Vieira. Nasceu em Lisboa e faleceu em São Salvador da Baía, em Junho de 1697. Foi, segundo Fernando Pessoa, "o imperador da língua portuguesa". Viveu entre Portugal e o Brasil. Foi, ainda, padre jesuíta, diplomata e um dos mais acérrimos defensores dos cristãos.novos, judeus, índios e escravos. Lutou, intransigentemente, e foi vítima da Inquisição. Tendo sido um dos profetas do 5º Império, angariou amigos, uns ilustres, outros não, e muitos inimigos.
Para mais informações, consulte - http://www.anovieirino.com/



I
Defesa do livro intitulado
QUINTO IMPÉRIO,
que é a apologia do livro
CLAVIS PROPHETARUM,

e respostas das proposições censuradas
pelos senhores inquisidores: dadas pelo
Padre Antônio Vieira, estando recluso nos
cárceres do Santo Ofício e Coimbra



Sendo ontem chamado à mesa, me foi dito que estavam nela os senhores inquisidores para sentenciarem a minha causa, e que antes disso queriam ouvir de mim tudo o que tivesse que dizer ou alegar para bem dela; e porque a última doença (de que estou mal convalescido) me não deixou com forças nem alento para poder falar em público, pedi licença para falar por papel, que me foi concedida. Protesto pois do modo que me é possível, diante desses senhores, que antes de se me dar a notícia que as minhas proposições estavam censuradas, e as censuras aprovadas por sua santidade, fazia eu tenção de propor em presença de vossas senhorias todos os pontos ou questões delas, dando os fundamentos das opiniões que segui, ou determinava seguir, respondendo aos das contraditas; mas depois que me foi dada a notícia da aprovação e autoridade do sumo pontífice, que é argumento a que a minha fé, resignação e obediência, não sabe outra solução senão a da veneração, obséquio e silêncio, sem que para isso seja necessário cativar ou fazer força ao entendimento, que sempre está e esteve sujeito aos menores acenos da Igreja, e de qualquer de seus ministros, havendo por esta via cessado o escrúpulo que só me dilatava; e tendo eu aceitado, sem mais demora da razão, ou explicação das ditas proposições, a todas as censuras delas, e suas dependências, nenhuma outra coisa se me oferece, que possa fazer ou dizer importante ao bem da minha causa, mais que o representá-la a vossas senhorias em um menor e mais abreviado processo, no qual a possa compreender toda junta de uma vez, dividindo-a para isso em partes certas e determinadas, onde se veja brevemente o dilatado, distintamente o confuso, e claramente o escuro e mal declarado por mim: e pois não posso fazer a dita representação com razões vivas (como muito desejava) falarão por mim estas poucas regras, não como nova alegação, pois não digo nelas coisa de novo, mas como um breve memorial deste processo, repartido, para maior facilidade, clareza, e distinção, nas oito ponderações seguintes: (...)

- Excerto de "De Profecia e Inquisição", Pe. António Vieira, Brasília, Estado Federal, 2001.
Iluminura de Wikipédia.





2 comentários:

hora tardia disse...

vim. re.ler.

com a saudade que se tem da verdadeira memória. que é cultura.


abraço.


.

.

imf.

António Simões ,Augusto Mota e Gabriela Rocha Martins disse...

sabe bem

tão bem


que nos demoramos
no
tempo



das re leituras

.
um beijo, I=Y