No próximo dia 10 de Dezembro, pelas 15 horas, terá lugar, no Museu Municipal Dr. Santos Rocha, na Figueira da Foz, a inauguração da exposição a Arte Nova nos azulejos em Portugal, exposição que iniciou a sua itinerância no Museu Municipal de Aveiro, de 16 de Julho a 2 de Setembro, pp., como homenagem à cidade considerada em Portugal a capital da Arte Nova. Esta será a segunda mostra deste acervo temático do grande coleccionador e investigador da arte azulejar que é o Engº Feliciano David.
1. a colecção de azulejos
Ao apresentar esta colecção, recordo com saudade a Maria Graciete que comigo partilhou, durante quase duas décadas, esta paixão.
Com a paciência típica do coleccionador, em feiras e lojas de antiguidades, leilões, ou estaleiros de demolições, por todo o país, fomos juntando milhares de azulejos enriquecendo a colecção com os melhores exemplares que encontramos.
Com a paciência típica do coleccionador, em feiras e lojas de antiguidades, leilões, ou estaleiros de demolições, por todo o país, fomos juntando milhares de azulejos enriquecendo a colecção com os melhores exemplares que encontramos.
Esta é composta por um acervo que, pela sua vastidão (mais de seis dezenas de milhar), qualidade e diversidade (período entre o séc. XVI até à primeira metade do séc. XX) constitui, porventura, uma das maiores colecções privadas de azulejaria.
Com efeito, dispõe de cerca de quatro milhares de azulejos de padrão do século XVII. Do século XVIII, afigura-se-me que é a mais variada colecção de padronagem existente em Portugal. Ainda deste século, possui dezenas de painéis de influência rocaille e barroca, e cerca de uma centena de painéis ornamentais de azulejaria neoclássica, muitos dos quais de produção da Fábrica do Rato, bem como de milhares de azulejos de figuras avulsas e de dezenas de albarradas.
Do último quartel do século XIX e primeira metade do séc. XX, a colecção de azulejos de padrão é, também, bastante completa, com particular incidência na azulejaria de fachada, e ainda, de três centenas de azulejos de Bordalo Pinheiro de produção da Fábrica de Cerâmica das Caldas da Rainha.
2. as motivações para coleccionar azulejos
Ao reunirmos esta colecção moveu-nos, não só o gosto pela azulejaria mas, fundamentalmente, o desejo de contribuir para o estudo e preservação de um dos mais belos e valiosos patrimónios artísticos nacionais, o património azulejar, considerado no contexto internacional o mais rico da Europa e um dos mais representativos da cultura portuguesa.
Porque os povos que não cuidam do seu património histórico-cultural estão condenados a perder a sua identidade.
Mas nunca quisemos mantê-la no âmbito privado para nosso deleite. Entendemos que a colecção só tem verdadeiro sentido quando lhe é dada visibilidade, quando é dada a fruir não só a outras pessoas que, tal como nós, amam o azulejo, mas igualmente, ao público em geral que ainda não está sensibilizado para olhar este tipo de expressão artística e para reconhecer a sua riqueza que é de ontem, de hoje e que será, certamente, de amanhã. Se a preservarmos.
Por isso, uma parte da colecção encontra-se depositada, há mais de uma dezena de anos, no Museu Nacional do Azulejo, constituída por cinquenta e cinco painéis, que totalizam cerca de 3500 azulejos de padrão do século XVII ao XX, bem como de painéis ornamentais neoclássicos do século XVIII, muitos dos quais integraram várias exposições, nomeadamente: “A Cerâmica Neoclássica” em 1997; “A Cerâmica da Fábrica de Louça ao Rato”, em 2005 no Museu Nacional do Azulejo, e em 2006 no Museu Nacional Soares dos Reis; a exposição evocativa do Centenário de “Santos Simões”, em 2007, bem como outras exposições em Espanha, no Brasil, e em Itália.
No Museu de Cerâmica de Sacavém foi, também, depositada, há 10 anos, aquando da sua inauguração, a colecção de produção desta Fábrica composta por cerca de 6600 azulejos e, igualmente no Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, os azulejos da autoria de Costa Motta Sobrinho.
Mas outras iniciativas têm contribuído para dar a conhecer a colecção. Esta é a terceira exposição temática que se realiza, no âmbito local, integrada, exclusivamente, por azulejos da colecção. A primeira teve lugar no Museu de Cerâmica de Sacavém, promovida pela Câmara Municipal de Loures; a segunda, na Madeira, por iniciativa da Câmara de Machico, ainda a decorrer até Outubro, dedicada ao azulejo de figura avulsa.
5. azulejos que integram a exposição
A exposição inclui cerca de 1400 azulejos portugueses e 164 estrangeiros seleccionados de entre os mais representativos da colecção.
O maior número de azulejos portugueses exposto foi produzido pela Fábrica de Louça de Sacavém, vindo a seguir os da Fábrica do Desterro, e da Fábrica Constância, todas de Lisboa; as Fábricas das Devesas e do Carvalhinho, de Gaia/Porto, têm, também, uma presença significativa, bem como a Fábrica de Louça das Caldas da Rainha de Rafael Bordalo Pinheiro. Fazem, ainda, parte da exposição cerca de sete painéis constituídos por azulejos cuja origem de fabrico não foi possível identificar com segurança, mas que se supõe serem, maioritariamente, de produção de fábricas de Lisboa.
A parte estrangeira inclui azulejos de diversos países, nomeadamente, de Inglaterra, Bélgica, França, Alemanha, Espanha, etc. Esclareço que nunca foi nossa intenção coleccionar azulejaria estrangeira. No entanto, acabamos por adquirir algumas centenas de azulejos com o objectivo de os conhecer e comparar com os congéneres portugueses.
De resto, a minha experiência de coleccionador leva-me a admitir que, no primeiro quartel do século XX, Portugal importou relativamente poucos azulejos decorativos dos quais alguns de Inglaterra, sendo na sua maioria destinados ao Porto, onde foram adquiridos, provenientes, ao que parece, do interior de habitações; no caso dos azulejos espanhóis terão estado colocados, possivelmente, na região de Lisboa.
Ao amigo Feliciano David agradeço ter autorizado a reprodução dos seus textos, que iniciam o belo catálogo da exposição realizada em Aveiro, bem como de algumas imagens que o ilustram. Para animar tais textos escolhemos as fotos que, pela suas proporções, melhor se adaptavam às "paredes" deste Palácio das Varandas, ou seja, do Xarajib de Silves. Não tivemos a preocupação de identificar técnicas, ou fábricas. Quisemos, tão só, suscitar a curiosidade de todos os que estas imagens vejam para irem até à Figueira da Foz ver e viver esta bela exposição.
augusto mota
Vídeo da inauguração da exposição no Museu de Aveiro:
2 comentários:
excepcional .simplesmente ,excepcional
.um beijo
( gabriela rocha martins )
Esta colecção de azulejos "Arte Nova" está um espanto.
Júlia
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