Quando vier a Primavera
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Fernando Pessoa / Alberto Caeiro
Glória
Depois do Inverno, morte figurada,
A Primavera, uma assunção de flores.
A vida Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.
Miguel Torga
Era preciso agradecer às flores
Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura
Sophia de Mello Breyner
fotos: Augusto Mota / a exuberância das ameixieiras em flor.
1 comentário:
A chegada da Primavera bem festejada.
Obrigada Mota, por esta festa de poesia e flores
Rosa
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