22/07/2013

Soneto


A QUE TRAGO  DENTRO
 




Imagino-te à porta, à minha espera,
Numa casa que é só pensamento –
Venho de longe, duma outra era,
Mas tu vives para além do tempo.

Tu és a que foste, a que já era
Antes de o meu próprio nascimento,
E que minha alma sem saber trouxera
Nos sonhos que eu à noite invento.

Teu avental feito de ar ou linho,
Preso à linha grácil da cintura,
Os braços puxando-me para ti.

E na luz desses olhos adivinho
Uma emoção que tudo transfigura:
Foi sempre e só contigo que vivi.


                                             António Simões

 
Foto: Augusto Mota / Agapanto azul (Agapanthus africanus

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