A QUE TRAGO DENTRO
Imagino-te à porta, à minha espera,
Numa casa que é só pensamento –
Venho de longe, duma outra era,
Mas tu vives para além do tempo.
Tu és a que foste, a que já era
Antes de o meu próprio nascimento,
E que minha alma sem saber trouxera
Nos sonhos que eu à noite invento.
Teu avental feito de ar ou linho,
Preso à linha grácil da cintura,
Os braços puxando-me para ti.
E na luz desses olhos adivinho
Uma emoção que tudo transfigura:
Foi sempre e só contigo que vivi.
António Simões
Foto: Augusto Mota / Agapanto azul (Agapanthus africanus)
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