MINHA MÃE AMASSA A VIDA
Minha mãe amassa a vida,
E a vida cabe-lhe inteira
Na farinha desmedida,
No infinito da peneira.
Minha mãe amassa e diz
Pra dentro do coração,
Que só pode ser feliz
Quando os outros também são.
Minha mãe amassa e crê
Na grande família humana:
Que o pão a todos se dê
E toda a gente se irmana.
Minha amassa e teme,
O que pensando aprofunda,
Com gente mesquinha ao leme,
A barca humana se afunda.
Minha mãe amassa e sabe
Que em seu grande coração,
O Amor do mundo cabe,
O ódio, esse é que não.
E, enquanto amassa, escreve
Sobre a massa a levedar,
Com essa grafia leve
Que o coração sabe usar.
E as palavras que escrevia,
Paz e Amor, passarão,
Como em gesto de magia,
Pra dentro de cada pão.
Ela amassa enquanto lavra
O chão do seu pensamento:
Amassa o chão da palavra,
Da palavra faz fermento.
Oito quadras inéditas de António Simões
Fotos de Augusto Mota / na Confraria do Pão (Alentejo), Monte das Galegas, Terena - 23 e 24 de Junho 2001
editado por augusto mota
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