P’rá mulher ser
infeliz
Basta-lhe só ser
mulher,
Sempre nas línguas do mundo,
Esteja ela onde estiver.
Sempre nas línguas do mundo,
Esteja ela onde estiver.
Não
fala, tem presunção,
E passa por indecente;
Se fala p’ra toda a gente
Não conhece a posição.
Se vai a qualquer serão
Há uma língua que diz:
«Ela foi lá porque quis
Aparecer ao amante».
Tudo isto é bastante
P’rá mulher ser infeliz.
Se vai à missa engomada,
E passa por indecente;
Se fala p’ra toda a gente
Não conhece a posição.
Se vai a qualquer serão
Há uma língua que diz:
«Ela foi lá porque quis
Aparecer ao amante».
Tudo isto é bastante
P’rá mulher ser infeliz.
Se vai à missa engomada,
Há
quem se atreva a dizer:
«Não ganha para comer,
Mas tem p’ra andar asseada !»
Se vai suja e mal trajada,
É bandalho porque quer.
Venha lá donde vier
E passe por quem passar,
P’ró mundo dela falar
Basta-lhe só ser mulher.
Se vai à dança é devassa;
Se não vai é orgulhosa;
Se quer ser religiosa
Dizem que é beata falsa;
Se p’rá rua sai descalça,
É um bandalho sem segundo;
Se calçada, gasta tudo,
É pobre e é presumida.
Assim passa a triste vida
Sempre nas línguas do mundo.
Se fica em casa, é senhora,
É fidalga sem ter renda;
Se trabalha na fazenda
É tida como impostora.
Não tem a triste uma hora
Que a desgraça a não espere.
Faça ela o que fizer
Em favor do seu bom porte,
Falam dela até à morte,
Esteja ela onde estiver.
«Não ganha para comer,
Mas tem p’ra andar asseada !»
Se vai suja e mal trajada,
É bandalho porque quer.
Venha lá donde vier
E passe por quem passar,
P’ró mundo dela falar
Basta-lhe só ser mulher.
Se vai à dança é devassa;
Se não vai é orgulhosa;
Se quer ser religiosa
Dizem que é beata falsa;
Se p’rá rua sai descalça,
É um bandalho sem segundo;
Se calçada, gasta tudo,
É pobre e é presumida.
Assim passa a triste vida
Sempre nas línguas do mundo.
Se fica em casa, é senhora,
É fidalga sem ter renda;
Se trabalha na fazenda
É tida como impostora.
Não tem a triste uma hora
Que a desgraça a não espere.
Faça ela o que fizer
Em favor do seu bom porte,
Falam dela até à morte,
Esteja ela onde estiver.
MANUEL ALVES (1843 - 1901), in «Versos dum
Cavador», 7ª edição, Capítulo I: A MULHER (Canções íntimas e burlescas), edição
da Câmara Municipal de Anadia, 2001, pp. 67 a 69.
É uma das mais nobres e originais composições do Alves. O povo da Bairrada
também assim a considera, pois é raro o
aldeão que a não saiba de cor. (Nota: p.353)
editado por augusto mota
editado por augusto mota
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