MOTE
Era Abril, de madrugada,
Alguém gemeu no escuro –Uma mulher revoltada
Dava à luz o futuro.
I
Era
o sono tão profundo
Duma Pátria que dormia
Ao peso da tirania
E de costas para o mundo;
Era o pântano imundo
Em que vivia atolada,
Era a senha segredada
Da revolta não contida,
Começo de nova vida,
Era Abril, de madrugada.
II
Disseram: “Revolução”,
E a palavra foi passando –
Perguntava o povo: “Quando?”
“Quando ouvires a canção.
Presta, pois, muita atenção;
Pela Pátria livre te juro,
Vamos derrubar o muro!”
E, de repente, calou-se –
Ali perto, com voz doce,
Alguém gemeu no escuro.
III
Ninguém sabia quem era,
Mas o som vinha de perto,
De um vulto meio encoberto
Plas flores da Primavera.
Sem temer homem ou fera,
Ali estava ela deitada,
Ao clarão da madrugada
Que cobria a terra de ouro,
Entre a alegria e o choro,
Uma mulher revoltada.
IV
Oh! mas que parto tão lindo
Entre flores e gente amiga!
“É rapaz ou rapariga?” –
Seja quem for, vem sorrindo.
Cessa o choro, e um canto infindo
No ar da manhã tão puro
Vai crescer firme e seguro.
E ela, feliz, agora
Sorrindo prà nova aurora,
Dava à luz o futuro.
António Simões
editado por augusto mota
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