30/06/2016

Rosário breve



DA  ARTE  DO  CHÁ




1. Parece que a última Convenção do Bloco (dito) de Esquerda ofereceu ribalta a uma farsola triste: a da assuada de que foi alvo a delegação, aliás convidada, do Syriza. Achei mal os apupos como o caraças. Para mim, ninguém lhano, ninguém gentil, ninguém cordato, ninguém bem educado – humilha, achincalha, indispõe &/ou enxovalha a quem, chamado por alguém, à casa de alguém acede. Os meus Pais sempre me inculcaram a evidência de ser o gesto a valer a mão, não o anel a valer o dedo. Catarina: o que aos gregos fizeram (pelo menos parte dos bloquistas com assento na plateia), justapõe duas em uma palavra só – má-criação. Não tem a ver com esquerda. Não tem a ver com direita. Não tem, sequer, a ver com política. Tem a ver com um pouquito mais de chá & com um bocadito menos de erva-fumada-para-rir na idade supostamente adulta. A dita assuada apupa-vaiante do BE ao Syriza fez-me, todavia, bem. Fez-me bem ao fazer-me, como me fez, voltar ao convívio do grande Poeta latino que Horácio foi, é & há-de ser. E a Horácio porquê? 
2. Porque Horácio escreveu ( cf. Epístolas, Livro II, 1.156  ): Græcia capta ferum victorem cepit . Em nosso Português: A Grécia dominada superou o seu feroz vencedor . Mas fará sentido ser, ante malcriados, citador do imorredouro legado horaciano? Fará. Porquê? 
3. Porque citar um latino a propósito de gregos causa sempre certo frisson erudito. Impressiona sempre os coríntios. Engasga sempre os zebedeus. Faz sempre tossir à bruta os fumadores de palha magrebina. E faz sempre estacar em gelo os adoradores do fogo fácil: aquele fogo que queima sem saber que um dia tudo arde. Que um dia tudo arde para pedagogia finalmente adulta de certa parte da plateia do BE. 
4. Entrementes, numa certa ilha não longínqua da Convenção catarinista, o Reino (des)Unido pôs-se na alheta/de frosques/vila-diogo do projecto pan-europeu nascido do pós-II Guerra Mundial. Sem pedir licença à miúda do Bloco, o mais vulgar cidadão cockney , nostálgico talvez de bifes de vaca não-louca, procedeu à edição de si mesmo em separata do breviário franco-alemão + ex-soberanias-cachopitas-satélites como por exemplo nós-Portugal. O que os Britânicos referendaram hoje será anteontem no dia a seguir a amanhã. Só isso. Ninguém sabe o que a seguir virá. Só eu sei. Só eu sei por que não fico em casa com o que sei. Saio de casa e venho a esta derradeira página do jornal berrar o que sei. Não é da realidade-Brexit-e-agora,-UE? que falo. É de Horácio. É de Horácio & é para aquela parte malcriada do BE. Trata-se do resto da citação do Poeta nascido a 8 de Dezembro quando faltavam 65 anos para o Cristo da manjedoura. Por causa disto: ao receber tão arruaceira & tão infelizmente em sua própria casa os convidados gregos, parte dos bloquistas neófitos da-coisa-depressa-mas-da-causa-devagar merecem saber o latinório todo. O qual é: Græcia capta ferum victorem cepit et artes / Intuit agresti Latio . Ou seja: A Grécia dominada superou o seu feroz vencedor e introduziu as artes no agreste Lácio . Ora, quem diz Lácio, Catarina, diz (des)União Europeia. Porquê, Catarina? 
5. Porque, Catarina, a boa-criação é adereço comportamental da arte do chá, arte a que os Gregos, miúda, nem sempre chamavam cicuta

Crónica de Daniel Abrunheiro, in «O Ribatejo», 30 de Junho de 2016 
Edição de augusto mota
Foto: obtida na net ; aqui reproduzida com manipulação cromática: filtro Pixelate /Mezzotint  
  

24/06/2016

Café com livros





“Se o tempo envelhecer o seu corpo
mas não envelhecer a sua emoção
você será feliz.”

                                 Augusto Cury


Em mais uma edição do já habitual “Café com Livros”, realizada no dia 19 de Junho, no Museu Moinho do Papel, em Leiria, esteve presente um trio improvável: uma Professora, um Engenheiro e uma Inspectora da Polícia Judiciária, respectivamente: Maria do Rosário Gama, António Betâmio de Almeida e Ângela Dias da Silva.
Une-os uma preocupação: O desafio do envelhecimento.
Lutam: Pelos direitos dos pensionistas.
Fazem parte da direcção da APRe! - Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados – uma associação cívica, laica, apartidária e sem fins lucrativos, que surgiu da necessidade de erguer a voz e dizer basta aos ataques perpetrados contra os direitos e as condições de vida dos mais velhos.
 

Afirmam, no livro editado pela “Oficina do Livro”, que «OS SONHOS NÃO TÊM RUGAS», cujo prefácio é da autoria de José Pacheco Pereira. A receita da venda desta obra reverte integralmente para a APRe! 
Este livro responde à pergunta “Como é ser velho, hoje, em Portugal?. A APRe! foi ver como é e dá-nos respostas através de depoimentos reais e sentidos das pessoas que foi ouvindo.  O livro é, pois, um convite à reflexão sobre o futuro. Um futuro vivido num país onde, actualmente, o número de pessoas com mais de 65 anos já ultrapassou os dois milhões… 



Antes de ser dada a palavra aos convidados, Lídia Raquel fez a apresentação dos mesmos:
Maria do Rosário Gama nasceu em 1949, em Nisa. Licenciada em Biologia, foi professora, entre outras, da Escola do Magistério Primário das Caldas da Rainha, da Escola Normal de Educadoras de Infância de Coimbra e da Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, da qual era directora quando se aposentou, em 2011.
António Betâmio de Almeida nasceu em 1947, em Lisboa. É licenciado em Engenharia Civil e professor Catedrático (Emérito) da Universidade de Lisboa (Instituto Superior Técnico) Membro da Academia de Engenharia. Investigador e consultor de Engenharia. Faz parte da dircção da APRe!
Ângela Dias da Silva nasceu em 1954, em Machio - Pampilhosa da Serra. Licenciada em Sociologia, a sua carreira profissional foi na Polícia Judiciária, onde exerceu o cargo de inspectora-chefe até 2006. Já na aposentação, foi voluntária em instituições hospitares e na Guiné-Bissau. Faz parte da direcção da APRe!

Feita a apresentação dos candidatos, “Café com Livros” deu, então,  a palavra aos autores de «OS SONHOS NÃO TÊM RUGAS», os quais foram falando do seu percurso de vida, de como se encontraram nesta “aventura” e dos motivos que os levaram a estarem juntos na direcção da Associação que representam.

 

Fomos conversando ao sabor das histórias. Fomos conversando ao sabor de leituras e reflexões, partilhando emoções que o livro nos despertou…
Partilhámos preocupações comuns de outros autores, dos quais aqui fica um texto de Albert Camus que parece resumir afirmações existenciais sobre o processo de envelhecimento, texto que foi lido por Cristina Barbosa


Envelhecer
"Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.
A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.
O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude, não é havê-las cometido...é sim não poder voltar a cometê-las.
Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.
Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.
Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.
O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio...
Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.
Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.
A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.
Nada passa mais depressa que os anos.
Quando era jovem dizia: “verás quando tiver cinquenta anos”.
Tenho cinquenta anos e não estou vendo nada.
Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.
A iniciativa da juventude vale tanto como a experiência dos velhos.
Sempre há um menino em todos os homens.
A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.
Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.
Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.
Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.
Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los."

Albert Camus



Maria do Rosário Gama, como fundadora da APRe!, falou sobre a importância do associativismo e sobre a missão da Associação enquanto agente promotor da dignificação da vida dos seus associados e da manutenção dos seus direitos.
Segundo a APRe!, “Quantos mais, mais força temos”, por isso, aqui fica o endereço para quem quiser associar-se e dar força a esta causa, já que, em troca de uma vida inteira de trabalho e de contribuições sociais,  todos queremos chegar ao futuro e ter uma vida digna:
  

É de louvar a capacidade de intervenção cívica de pessoas como os nossos convidados que, podendo estar “sossegados”, escolheram cansar-se por uma causa que é de todos nós: novos, menos novos, velhos e menos velhos!
Os números respeitantes à demografia expressam uma realidade que urge enfrentar; uma realidade que exige adaptações e respostas concretas e atempadas por parte de todos os agentes sociais. A consciência do presente e a responsabilidade do futuro a todos cabe.



Depois de os convidados terem respondido a todas as questões colocadas pela assistência, foi a sessão dada por terminada. Seguiu-se uma visita guiada ao Moinho do Papel, amavelmente disponibilizada pela técnica responsável pela animação cultural deste Museu. 





Por fim foi servido café e bolinhos debaixo da pérgula de glicínias, próximo da cascata do rio Lis e junto ao tanque que alimenta os rodízios que fazem mover as mós da Sala do Cereal, que é um outro espaço do Museu destinado à moagem e armazenamento dos cereais, da farinha e de todos os equipamentos necesários à farinação.

O próximo “Café com livros” será no dia 9 de Julho, também no Moinho do Papel, e o convidado é o escritor António Tavares, Prémio Leya 2015.
Até lá não recusem:
                     Um café quente

                     Um livro fresco

                                 Uma ideia nova


                                          …e não se esqueçam que
        
Boa reflexão!



Texto: Rosa Neves e Augusto Mota
Fotos: Rui Pascoal 
Edição: Augusto Mota