16/07/2016

Café com livros





No passado Sábado, 9 de Julho, teve lugar no Museu Moinho do Papel, em Leiria, a tertúlia "Café com livros" com a presença do escritor António Tavares, vencedor do Prémio Leya 2015, com o romance «O Coro dos Defuntos», tendo já sido finalista do mesmo prémio em 2013 com a obra «As Palavras Que Me Deverão Guiar Um Dia».



Cristina Barbosa fez a apresentação do convidado: António Tavares nasceu em Angola em 1960, formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e é pós-grtaduado em Direito da Comunicação pela mesma universidade.
Foi professor do ensino secundário e, actualmente, exerce o cargo de vice-presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz.

Rosa Neves, António Tavares e Cristina Barbosa

Escreveu peças de teatro - Trilogia da Arte de Matar, Gémeos 6, O Menino Rei -, estudos e ensaios - Luís Cajão, o Homem e  o Escritor; Manuel Fernandes Thomás e a Liberdade de Imprensa; Arquétipos e Mitos da Psicologia Social Figueirense; Redondo Júnior e o Teatro - entre outros.
Foi jornalista, fundador e director do periódico regional «A Linha do Oeste». Fundou e coordenou a revista de estudos «Litorais». Como romancista, obteve uma menção honrosa no prémio Alves Redol, atribuída em 2013 pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira ao romance «O Tempo Adormeceu sob o Sol da Tarde», ainda no prelo, e foi finalista do prémio Leya 2013 com a obra «As Palavras Que me Deverão Guiar Um Dia», publicado pela editora Teorema e também finalista do Prémio Literário Fernando Namora. Participou no "Festival do Primeiro Romance" de Chambéry, em França, em 2015.

Dr. Gonçalo Lopes, vice-presidente da Câmara M. de Leiria e vereador da Cultura, Rosa Neves,
António Tavares e Cristina Barbosa

Para um necessário enquadramento histórico-social do romance, transcrevemos da contracapa do livro a apresentação feita pela editora:

"Vivem-se tempos de grandes avanços e convulsões: os estudantes manifestam-se nas ruas de Paris e, em Memphis, é assassinado o negro que tinha um sonho; transplanta-se um coração humano e o homem pisa a Lua; somam-se as baixas americanas no Vietname e a inseminação artificial dá os primeiros passos. Porém, na pequena aldeia onde decorre a acção deste romance, os habitantes, profundamente ligados à natureza, preocupam-se sobretudo com a falta de chuva e as colheitas, a praga do míldio e a vindima; e na taberna - espécie de divã freudiano do lugar - é disso que falam, até porque os jornais que ali chegam são apenas os que que embrulham as bogas do  Júlio Peixeiro. E, mesmo assim, passam-se por ali coisas muito estranhas: uma velha prostituta é estrangulada, o suposto assassino some-se dentro de um penedo, a rapariga casta que colecciona santinhos sofre uma inesperada metamorfose, e a parteira, que também é bruxa, sonha com o ditador a cair da cadeira e vê crescer-lhe, qual hematoma, um enorme cravo vermelho dentro da cabeça. Quando aparece o primeiro televisor, as gentes assistem a transformações que nem sempre conseguem interpretar...
Com personagens inesquecíveis e um recurso narrativo extremamente original, «O Coro dos Defuntos» é um belíssimo retrato do mundo rural português entre 1968 e 1974."
  


Da delaração do júri do Prémio Leya 2015 importa transcrever as palavras que vêm reproduzidas na badana da capa deste livro:

«[...] O romance reanima, com conhecimento empático e com ironia, uma ruralidade ancestral - flagrante nos ambientes e nos modos de viver, nos horizontes de crença e nos saberes empíricos, na linguagem e na imaginação mítica. E é sobre esse fundo ancestral que vêm inscrever-se as notícias das transformações aceleradas do mundo contemporâneo e o jogo de alusão e de metáfora sobre o devir da nossa sociedade e o agonizar do antigo regime político - até ao anúncio da revolução.

É sempre o plano narrativo que predomina, dado através do recurso a uma forma inovadora na apresentação da voz narrativa, que alterna entre o quadro da província beirã e o mundo da emigração na Suiça e nos Estados Unidos.

À versatilidade na composição da narrativa e no cruzamento de vozes e perspectivas corresponde a diversidade de personagens - realistas e simbólicas, típicas e insólitas - , num estilo que sabe combinar matizes tradicionais e actuais da língua portuguesa.[...]»  

O júri: Manuel Alegre (Presidente), José Carlos Seabra Pereira, José Castello, Lourenço do Rosário, Nuno Júdice, Pepetela e Rita Chaves


Este romance presta-se a um bom exercício em relação a uma tipificação mais correcta do narrador nas suas várias vertentes, uma vez que  o autor arquitectou uma estrutura singular, com o recurso sitemático a um Diz ela, uma personagem anónima que vai narrando a história sem se intrometer na sua trama. Será o que, quanto à presença no desenvolvimento da acção, é chamado de narrador heterodiegético. Já quanto  ao saber, ou à ciência, estamos perante um narrador omnisciente, pois conhece tudo sobre a vida passada, presente e, até, futura  das personagens e o desenrolar da acção. E será por acaso que este narrador é do sexo feminino? Não será! No ambiente fechado das aldeias portuguesas de então havia o que, depreciativamente, se designava por "conversas de soalheiro", para, em tempos de ócio, murmurar, ao sol, acerca da vida alheia, tendo sido mesmo, nesses tempos, cunhada a expressão "mulher de soalheiro", que tem uma forte carga negativa. O autor, porém, neste romance reabilita o papel da mulher que tudo sabe da sua aldeia, atribuindo-lhe a nobre categoria de narrador omnisciente! 



Durante a sessão foram lidos por Rosa Neves e Cristina Barbosa alguns trechos de «O Coro dos Defuntos», cabendo a Mariana Neves a  leitura de uma longa passagem de «As Palavras Que Me Deverão Guiar Um Dia».


Após as várias leituras de trechos destas suas duas obras o autor foi respondendo, com simplicidade e sem alardes intelectuais, a todas as questões que iam sendo colocadas pela assistência, especialmente como construíu uma aldeia beirã a partir de uma aturada investigação e algumas informações de terceiros, pois antes de ter escrito «O Coro dos Defuntos» nunca vivera ou estivera em qualquer aldeia da Beira. 



Antes de se ter entrado no objecto desta tertúlia e da apresentação do convidado, Rosa Neves deu a palavra a Wolfgang Schaden e a Belinha Schaden para, na sequência do tema da tertúlia anterior, lerem os textos que escreveram sobre as suas experiências como reformados.

Wolfgang Schaden e Belinha Schaden

Como tem vindo a acontecer desde sempre, "Café com livros" orgulha-se de ser um ponto de encontro de afectos, de amigos e de amigos que aparecem de surpresa, mesmo vindos de longe. Foi o caso, desta vez, com o casal Ana Ramon / António Figueiredo que, pela segunda vez, se deslocaram propositadamente de uma aldeia do concelho de Santa Comba Dão para estar presente nesta tertúlia. E já o tinham feito em Março de 2014.



Augusto Mota, Ana Ramon, António Figueiredo, Rosa Neves e Mariana Neves

Para melhor se perceber o que acima foi dito sobre "Café com livros" ser um lugar de afectos, ver os encontros-surpresa de Daniel Abrunheiro, Francisco Fanhais e Manuel Freire com os convidados de duas tertúlias, em 2014 e 2015:  
http://palaciodasvarandas.blogspot.pt/2014/03/tertulia-cafe-com-livros.html http://palaciodasvarandas.blogspot.pt/2015/01/cafe-com-livros.html

E no fim de cada tertúlia há sempre lugar para uma útil troca de informações sobre os mais variados assuntos:

António Tavares parece bastante interessado na informação de uma assistente

 À esquerda, a  Drª Sofia Carreira, directora do Museu Moinho do Papel e do Agromuseu, 
em Ortigosa, trocando impressões sobre plantas e outros assuntos conexos 

E assim terminou mais um "Café com livros". Voltaremos a encontrar-nos no final de Setembro, em local a anunciar, para estarmos à conversa com Pedro Preto sobre os seus livros de fotografia «Lisboa – capital da ilusão», editora  Blurb, Incorporated, 2015, e «Lisboa – capital do insólito», editora Calçada das Letras, 2010. Também deverá ser abordada a sua microficção, já editada ou inédita. Tem editado um livro de “contos reais”: «O Mundo é um Berlinde com Piada», edição Fonte da Palavra, 2012.     

Até lá não recusem:

                       Um café quente

  
                                      Um livro fresco

  
                                                      Uma ideia nova



Texto e edição: Augusto Mota

Fotos: Joaquim Cordeiro 


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