10/07/2016

Crónica de um renascimento



 

No passado dia 6 deste mês de Julho foi apresentado no Museu Moinho do Papel, em Leiria, o livro de David Teles Ferreira «Crónica de um renascimento e outras escritas de bolso», numa edição de autor (190 pp. / 16x10,5 cm), sendo este o primeiro livro em prosa que David Teles publica. A apresentação esteve a cargo do escritor Fernando José Rodrigues.

David Teles Ferreira nasceu em Coimbra em 1962 e vive em Leiria onde exerceu a profissão de Delegado de Informação Médica. Faz parte  do Te-Ato – Grupo de Teatro de Leiria, onde se estreou como actor em 1998, na peça «Pretextos Teatrais», de Jaime Salazar Sampaio, encenada por João Lázaro. No Te-Ato, ao longo de dez anos, tem feito produção de espectáculos, apoio técnico e animação de rua, bem como sessões de poesia. Ocasionalmente diz poesia em tertúlias e lançamento de livros.
  Escreve desde a adolescência: «assumindo a terra» é o primeiro livro de poesia que publica (Editorial Diferença, Leiria, 1999) seguido de «as encostas voltadas a norte» / «o mar nos teus olhos» em co-autoria com o pintor Jorge Melo (Som da Tinta, Ourém, 2002).
Organizou em 1999 a colectânea «Juntos por Loro Sae», um conjunto de textos, poemas e desenhos de autores leirienses em solidariedade com Timor.
Colaborou com o semanário «Jornal das Cortes» onde durante alguns anos assinou a crónica "Vemos, ouvimos e lemos".  


Dr. Gonçalo Lopes, vereador da Cultura e Vice-Presidente da Câmara, David Teles Ferreira e Fernando José Rodrigues

As certezas quanto a um passado ainda bem presente e dúvidas quanto a um incerto porvir marcam indelevelmente os textos de David Teles Ferreira. Três exemplos:


A dúvida   
     A dúvida cresce insidiosa dentro do peito. Devia dizer que cresce na cabeça, mas é no peito que se sente. Naquela sensação de vazio que, por antítese, o preenche. Naquela mágoa que faz bater mais forte o coração. Naquela sensação que não é dor, mas quase. A cabeça a afastar os pensamentos e o coração a bater, a bater. A não deixar afastar a dúvida. A trazer de volta os pensamentos. Como uma maré cheia de vazio.
(p.10)
 Bruma 
     Que importa a bruma se sigo sem destino? Se o que busco está em mim? Avanço névoa adentro sem receios. Aceito as surpresas e obstáculos. A palavra perder-me não tem cabimento nesta jornada. Só se perde quem sabe para onde quer ir. Eu apenas vou. Para onde saberei quando lá chegar. Se alguma vez chegar a saber. Por isso o nevoeiro é um irmão acolhedor. Um amigo que me faz concentrar no mais essencial. Sem horizontes longíquos que me distraiam, sem vislumbrar árduos longes que me desencoragem, viajo melhor dentro de mim. 
(p.50)
A química do físico
     É uma química. A química do físico. Dizem. A química dos corpos. Por isso uns nos atraem e outros não. Por causa dela funcionamos com uns e outros não. É por ela que, às vezes, a cabeça nos diz que sim e o corpo nos diz que não. Ou ao contrário. Não tem explicação. Não é racional. Apenas se sente ou não. Nada tem a ver com a atracção que sentimos por pessoas com os mesmos valores e aspirações. O ideal é quando as duas coisas se conjugam. Chama-se amor perfeito. Acho.
(p.114)   


                                   



        Edição: Augusto Mota
        Fotos: António Nunes e Augusto Mota
 

Sem comentários: