Secretos segredos são suavemente segredados no sagrado e simbólico silêncio das sílabas sucessiva e sistematicamente soletradas como sustentáculo da supremacia dos sons supostamente sinónimos do supracitado simbolismo do silêncio. Semelhante sinonímia sintetisa a sinuosidade do sistema semiológico singularmente simplista subjacente à supérflua sinalética que supostamente sacraliza um sensacionalismo seguidista e sentencioso sem o sagaz sexto sentido servo da sensibilidade serena e sincera subentendida nos secretos significados subterraneamente substituídos por sinais singulares e simplificados mas simétricos de situações substantivas saboreadas no sagrado silêncio das palavras. Que secreta repetição invadiu a planície do sonho onde germinam as palavras? Que rigor é este que só rega a raiz das palavras que se alinham nos regos por onde andaram as mãos das mondadeiras? Assim, estiolam as ideias na terra seca e gretada dos campos ensolarados! Assim, as palavras verdes e tenras murcham a meio da tarde, mesmo antes da pausa para a merenda! Talvez o pão e o vinho consigam novo ânimo para os sentidos das sílabas criadas entre a infância e a memória. Talvez o cheiro da fruta perfumando um quarto de dormir nos faça sonhar sobre a areia macia da praia, mesmo que tarde a maré-cheia dos sentimentos que guardámos para, um dia, lançar ao vento suão como se fossem papagaios coloridos presos ao fio invisível da pré-história das recordações. Sagrada fruta a que se guarda no silêncio de um quarto onde dormem os perfumes secretos que simbolicamente invadem as mãos e os olhos! Não sabemos que supremacia é esta que as palavras subitamente nos impuseram. Nem sabemos o que louvar mais, se a gramática, se os olhos que acariciam os gestos e prolongam o sonho e o tempo! E a dor? A dor alimenta o sonho e, como um rio tempestuoso, avassala as mãos que tremem e já não desenham o significante das palavras que, assim, se vão acumulando em traços sem significado, enquanto o olhar vagueia, tímido, pelos caminhos incertos do tempo. Só o sonho segura as mãos trémulas para, com firmeza, lavrar os regos na planície onde germinará, sem ervas daninhas, a sementeira de todas as palavras que, no silêncio do olhar, havemos de segredar ao futuro. Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.
5 comentários:
E, na escrita, se denota a eloquência de um Mestre...Também aqui, Augusto Mota, "brinca", muito seriamente, com o significado das palavras, tornando-as, cada vez mais, significantes.
Um belíssimo texto escrito por alguém que nos surpreende sempre e mais. Ora com textos, ora com fotografias, legendas e fotopoemas. Um artista verdadeiramente completo. E dum perfeccionismo que chega a magoar.
Um abraço, do fundo do coração, meu caro Augusto Mota!
O sonho é a alquimia da alma dos Poetas...
É nesse peito místico, que é o seu, que surge, escorrendo a lava de um mar de angústias, um tremendo grito transformado em canto.
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