11/12/2005

Fulvo Esplendor

Descobria a História, deusas portadoras de vida,
Néftis, a Núbia, templos do Neolítico, um capitel romano,
o ouro antigo.
Tinha desasseis anos.
As nuvens no céu perfilavam-se, como imaculadas vestais.
No jardim, as dálias e as glicínias abriam-se.
Pela primavera, as laranjeiras floriam, brancas,
perfumadas, descobriam a sua doce letargia.
O pólen acumulava-se.
Mas ainda não chegara o tempo de me desdobrar
em páginas manuscritas,
apenas me devorava a paixão sôfrega e atenta dos versos.
E interrogava-me, nesse fulvo esplendor, à beira do vazio.
Procurava o mar, o infinito.
Arqueada no céu, a deusa Nut dava forma ao éter,
o seu corpo, como um sopro nocturno,
recamado de estrelas, invadia a memória,
trazendo um rasto incolor de íbis, chacais,
mandrágoras, lótus, perfumes da eternidade.
Dividida entre as luzes e os perfumes, desenvolvia
o fulcro e as narrativas, entre todas as paisagens,
onde se enleavam os barcos, as necrópoles.
Descobria Néftis, a Núbia, e os escaravelhos negros
pairavam sobre as sombras, refazendo o azul,
a perfeição,
onde me encontrava com a harmonia do mundo.
Maria do Sameiro Barroso, inédito, in "Idades Sonâmbulas".

9 comentários:

Anónimo disse...

Um novo poema de uma grande senhora das Letras portuguesas.
Um beijo, Maria do Sameiro.

Anónimo disse...

Um beijo, Maria do Sameiro.

Anónimo disse...

Um outro beijo, com sabor a almíscar!

Anónimo disse...

Senhora de doces encantos. Um abraço deste Sul que um dia, encantado, a reteve.

Anónimo disse...

Nada foi igual depois daquele longínquo dia 24 de Abril de 2005...

Anónimo disse...

Um beijo, Amiga!

Anónimo disse...

O insulto das deusas...

Anónimo disse...

Recordo-a com a saudade de uma tarde de Abril.

Anónimo disse...

Passo, também, para deixar mais um abraço.