Descobria a História, deusas portadoras de vida,
Néftis, a Núbia, templos do Neolítico, um capitel romano,
o ouro antigo.
Tinha desasseis anos.
As nuvens no céu perfilavam-se, como imaculadas vestais. No jardim, as dálias e as glicínias abriam-se.
Pela primavera, as laranjeiras floriam, brancas,
perfumadas, descobriam a sua doce letargia. O pólen acumulava-se.
Mas ainda não chegara o tempo de me desdobrar
em páginas manuscritas,
apenas me devorava a paixão sôfrega e atenta dos versos.
E interrogava-me, nesse fulvo esplendor, à beira do vazio.
Procurava o mar, o infinito. Arqueada no céu, a deusa Nut dava forma ao éter,
o seu corpo, como um sopro nocturno,
recamado de estrelas, invadia a memória,
trazendo um rasto incolor de íbis, chacais,
mandrágoras, lótus, perfumes da eternidade. Dividida entre as luzes e os perfumes, desenvolvia
o fulcro e as narrativas, entre todas as paisagens,
onde se enleavam os barcos, as necrópoles. Descobria Néftis, a Núbia, e os escaravelhos negros
pairavam sobre as sombras, refazendo o azul,
a perfeição, onde me encontrava com a harmonia do mundo. Maria do Sameiro Barroso, inédito, in "Idades Sonâmbulas".
9 comentários:
Um novo poema de uma grande senhora das Letras portuguesas.
Um beijo, Maria do Sameiro.
Um beijo, Maria do Sameiro.
Um outro beijo, com sabor a almíscar!
Senhora de doces encantos. Um abraço deste Sul que um dia, encantado, a reteve.
Nada foi igual depois daquele longínquo dia 24 de Abril de 2005...
Um beijo, Amiga!
O insulto das deusas...
Recordo-a com a saudade de uma tarde de Abril.
Passo, também, para deixar mais um abraço.
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