Quantas palavras se escondem por detrás de um gesto? E que olhares se escondem por detrás de uma palavra que navega na periferia do esquecimento? Será necessário, por certo, inventar uma nova semântica que ritualize o esforço dos gestos e dê ao corpo uma dimensão tão sublime como se alguém o estivesse a esculpir no mármore mais precioso, fazendo de seus veios as veias onde pulsam os mistérios da vida. Algumas palavras também esculpem, em sua secreta significação, o corpo frágil da memória para, depois, se arrastarem pelos veios frios da pedra num delírio febril que vai deixando os sentidos ora ausentes, ora exangues. O escultor, então, confunde-se com a sua própria obra esculpida e cada silêncio é a força decidida e precisa do cinzel a desbastar a matéria e a vida. Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.
3 comentários:
As palavras são o signo das emoções recalcadas.
É tão forte ler Augusto Mota. Converte os incrédulos, ou as incrédulas...
O Escultor é como o Poeta. Dissolvem-se na Ausência -. Assim o escreveu, um dia, a Maria Gabriela e eu retive, em absoluta concordância.
E, de novo, o Augusto vem demonstrar que assim é.
Tudo tão magnificamente perfeito.
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