22/02/2006

2. Meu Corpo É Agora Um Barco

Sento-me no banco
Do pequeno largo -
O vento arredonda
Os meus sobressaltos e perde-os no ar.
O dia arde ainda na copa das árvores,
Nas asas dos pássaros,
Nos olhos dos velhos
Perdidos no tempo -
Meu corpo é um barco
Ancorado na luz.
3. Voa Meu Corpo
Voa, meu corpo,
Na crista do vento,
No bafo do suão
Que arde violento
E varre as planuras
Como um lobo de lume -
Voa, meu corpo,
Ancorado na luz.
4. Falávamos do Tempo
Falávamos do tempo -
Tocaste-me ao de leve os cabelos
E foste abrindo clareiras para o vento passar;
Perto, uma mulher cantava em surdina,
Num quintal, encostada a um muro de pedras soltas -
O sol do Alentejo cegava-nos as palavras:
O que íamos dizendo sobre o tempo
Escorria-nos agora dos nossos olhos
Ancorados na luz.
António Simões, inéditos,
Évora, 9 de Julho de 1999.

8 comentários:

Anónimo disse...

Três magníficos poemas com toda a força telúrica do Alentejo. Terra do pão e de poetas. Um abraço, Amigo Simões!

Anónimo disse...

O enlevo, a ternura e o encantamento são sentimentos que a leitura dos poemas de António Simões me despertam. Fico sempre, nas palavras, muito longe das minhas verdadeiras emoções, mas não resisto a dizer o que realmente sinto quando o leio.

Anónimo disse...

Um beijo, ao fim da tarde.

Anónimo disse...

Um abraço, Poeta!

Anónimo disse...

Outro.
E seja muito bem vindo.

Anónimo disse...

É tão doce ler o poeta António Simões antes de recolher. Suaviza a alma.

Anónimo disse...

Dolentemente terno e nostálgico ! como o "cante" alentejano.Gosto muito !

Anónimo disse...

São muito bons os poetas deste blog.
Alvíssaras!