10/08/2006

Por vezes escutava os girassóis

Sonhava o esplendor. Eu era assim, vulnerável e sombria,
e a morte pousava inteira, no meu ombro.
No terror não havia ninguém que me abraçasse.
Pelos dias fortuitos, talvez as mãos de Deus, onde o silêncio
amainava, aguardando os dias lentos,
porque o tempo era frágil, insaciável e as esferas resplandeciam,
entre plantas mortiças, rodeadas de miasmas perniciosos.
Pelo espaço reduzido consultava Tratados sobre a Espiritualidade
e irremediavelmente, o vento soprava.
A lua recomeçava.
Pela primavera, chegavam os adivinhos.
Era preciso enfrentar o trabalho dos ventos e os domínios do éter,
na luz coberta de dióspiros, dizendo as coisas simples,
coroadas de fragrâncias, profundamente irreais.
Fruia as rosas, a música.
O éter soltava os seus cavalos macios, os seus ritmos langorosos
e a vida constituía-se, entre gaivotas em contraluz,
cabelos soltos, poemas impregnados de areia.
Por vezes, ecutava os girassóis e as palavras alteradas
pelo lado dos abismos.
Tudo era incerto, na sua resolução imensa,
as aves eram intermináveis,
os aloendros vergavam-se, leves, carregados de silêncio.
As abelhas zuniam, pelos rios desvelados, a luz ardia
e o verão começava, confirmando a luz do sol.
Maria do Sameiro Barroso, inédito, in "Idades Sonâmbulas".

2 comentários:

Anónimo disse...

Há tempo, muito tempo que não vinha por estas bandas. A Poesialevra-me para outras paragens. Mas, no regresso, reencontrei a belíssima poesia e o bom gosto.
Um abraço, amigos!

Anónimo disse...

e a tripulação, como sabes ,em nome da Maria do Sameiro e de todos nós, agradece o teu regresso.
de mim, sabes que compreendo muito bem os teus silêncios e as tuas partidas ... igualmente criativas ... fico à espera de um outro regresso, quando possível.

um beijo, amigão!