08/11/2006

Mário Viegas diz Caeiro / Pessoa




Da mais alta janela da minha casa
com um lenço branco digo adeus
aos meus versos que partem para a humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
porque não posso fazer o contrário
como a flor não pode esconder a cor,
nem o rio esconder que corre,
nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
e eu sem querer sinto pena
como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide, de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.





leia e oiça aqui
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4 comentários:

Anónimo disse...

Este é dos meus preferidos do pessoa.. adorei ouvir e ler.. obrigada...
deixo um abraço do sul

António Simões ,Augusto Mota e Gabriela Rocha Martins disse...

obrigada ,Meia Leca!

beijinhos.

della-porther disse...

gabe

imaginaria Fernando que muitos, muitos o leria?
e que o amaria?

adorei ouvir.

beijos

della

António Simões ,Augusto Mota e Gabriela Rocha Martins disse...

obrigada ,Dellita

beijos ( muitos ) para ti.