30/09/2007
23/09/2007
cinco variações para o mesmo tema - Outono
I
canto por ti o vento
a vida
em mês de Outono
e
a folha
guarda o sentido
oculto
canto por ti o vento
a vida
em mês de Outono
e
a folha
guarda o sentido
oculto
.em mim.
II
na sagração
das árvores
nuas
celebra.se o ritmo
e a dança
o vento
em tom de liberdade
.outono.
III
a folha
sela o sagrado
e
o profano
.outono em mim.
gabriela r martins ,in "canto.chão".
fotografias e composições de Augusto Mota sobre poemas de António Simões e gabriela r martins.
12/09/2007
Voa meu Corpo
3. Voa meu corpo Voa, meu corpo,
na brisa do vento,
no bafo do suão
que arde violento
e varre as planuras
como um lobo de lume -
Voa ,meu corpo,
ancorado na luz.
Tocaste-me ao de leve os cabelos
e foste abrindo clareiras para o vento passar;
perto, uma mulher cantava em surdina,
num quintal, encostada a um muro de pedras soltas -
O sol do Alentejo cegava-nos as palavras:
o que íamos dizendo sobre o tempo
escorria-nos agora dos nossos olhos
ancorados na luz.
António Simões ,inéditos , 1999.
Composições de Augusto Mota sobre poemas de António Simões.
na brisa do vento,
no bafo do suão
que arde violento
e varre as planuras
como um lobo de lume -
Voa ,meu corpo,
ancorado na luz.
4. Falávamos do tempo
Falávamos do tempo -
Tocaste-me ao de leve os cabelos
e foste abrindo clareiras para o vento passar;
perto, uma mulher cantava em surdina,
num quintal, encostada a um muro de pedras soltas -
O sol do Alentejo cegava-nos as palavras:
o que íamos dizendo sobre o tempo
escorria-nos agora dos nossos olhos
ancorados na luz.
António Simões ,inéditos , 1999.
Composições de Augusto Mota sobre poemas de António Simões.
05/09/2007
miosótis
Como um anjo persa descemos do trono para semear, como penitência, miosótis ( Myosotis scorpioides ) pelos campos alagados dos territórios da ausência e do sonho. Assim não vamos esquecer o trajecto dos olhos a caminho de umas mãos agora vazias dos frutos da véspera. Vamos, pois, esperar pela estação própria, quando na terra húmida germinar uma delicada renda vegetal para, então, bordar uma coroa de singelas flores azuis nas mãos frescas da madrugada e, com elas assim enfeitadas, subir a grande escadaria que antecede o arco-íris de todas as sensações. De lá de cima espalharemos aos quatro ventos sementes de bonina ( Bellis perennis ) que também hão-de germinar em abundância por montes e vales, assim perpetuando a memória dos dias claros. E pelos bosques do arco-íris descansaremos os sentidos ao longo de veredas orladas de pervinca ( Vinca minor ), enquanto aguardamos o desabrochar do azul-violáceo de suas flores. Com elas faremos um filtro raro que acautele a distância do tempo e traga de volta o feitiço das noites quentes, quando as vozes chegam de muito longe, de tão longe que apenas adivinhamos o verdadeiro rosto das palavras, embora o saibamos coroado de miosótis e de boninas. E pelos lagos que animam a frescura destes bosques havemos de procurar o nenúfar ( Nymphaea alba ) e o golfão-amarelo ( Nuphar luteum ) para com os seus pedúnculos e flores, pacientemente, fazer os colares honoríficos que irão distinguir os bons serviços prestados por nós mesmos, em nosso proveito próprio. Assim frutifiquem todas as sementes que lançámos aos ventos do sonho! Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000.
Fotografias e Composição de Augusto Mota.
03/09/2007
Dizendo
Nas veias remotas do rosto do descampado,
no branco véu oculto, nas pedras , na sede
ou na água do próprio gado
está outro deus presente,
talvez do mar profundo
a ressomar no retolhado.
Nunca pronunciei bem certas palavras -
sempre traído pela escuridão fonética
das espadas da minha fala
digo castelo
e de guerreiro fiel ao dizê-lo,
visto à espreita no vale a minha pele
digo cruz ,digo rei
digo magoada solidão
e nela a cruz da mulher da grei
o deus nos olhos é de mágoa
as preces longínquas nas estradas
são de água
digo desembainhada espada,
o mesmo é dizer uma flor branca,
saída do colo de uma princesa perdida
digo sal e uma barca salta dos dedos
aos olhos do guerreiro
escondido, atento ao rio
nunca pronunciei bem certas palavras -
sempre traído pela escuridão fonética
das espadas na minha fala
a ver rezar:
- à outra, à mesma ou à sobreposta pedra
in a celebração dos dias
José Marto, inédito.
Fotografias de Augusto Mota.
no branco véu oculto, nas pedras , na sede
ou na água do próprio gado
está outro deus presente,
talvez do mar profundo
a ressomar no retolhado.
Nunca pronunciei bem certas palavras -
sempre traído pela escuridão fonética
das espadas da minha fala
digo castelo
e de guerreiro fiel ao dizê-lo,
visto à espreita no vale a minha pele
digo cruz ,digo rei
digo magoada solidão
e nela a cruz da mulher da grei
o deus nos olhos é de mágoa
as preces longínquas nas estradas
são de água
digo desembainhada espada,
o mesmo é dizer uma flor branca,
saída do colo de uma princesa perdida
digo sal e uma barca salta dos dedos
aos olhos do guerreiro
escondido, atento ao rio
nunca pronunciei bem certas palavras -
sempre traído pela escuridão fonética
das espadas na minha fala
a ver rezar:
- à outra, à mesma ou à sobreposta pedra
in a celebração dos dias
José Marto, inédito.
Fotografias de Augusto Mota.
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