28/03/2008

prenúncio da cidade sitiada

Como um deus sorvo as colinas do desejo e sigo, perdido, pelas sendas agrestes da memória e de um tempo que parou aqui. E agora, receoso, fujo de mim em direcção às mãos que desenham cada gesto e perpetuam o amanhecer.
Duas estrelas recordam os êxitos dessa memória e clamam pelo subtil silêncio da cidade sitiada. Não é vã a glória que é prenúncio de outra cidade! Sempre o corpo há-de ser metáfora de mulher e de cidade! Assim a conquista corre célere pelas mãos que, em uníssono, celebram o ritual do sacrifício.
Um dia tudo há-de ser claro como o grito da vitória entre as mãos em penitência. A confissão ficará adiada para a memória do presente!


Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000
Textos Transversais de Augusto Mota.

26/03/2008

eu sou a vibração do teu verso


nas tuas mãos bem seguras
os teus segredos
dádivas pulsam
correm pelos dedos
cruzam corações
luzes
a pele a linha cicatriz
fonética a linho falada
os lábios entreabertos
o tempo de guardar a boca a espada
de segredos
a dádiva
os pulsos de morte
com a tinta azul e forte
pelo tacto
pela mágoa
e
eu sou a vibração do teu verso
unida à tua voz de fala escrita

José Ribeiro Marto, inédito, in " a celebração dos dias"
Textos Transversais de Augusto Mota.

23/03/2008

....................as palavras I*

há palavras que me esperam
no outro lado da folha ou
na próxima estação
se o combóio
passar por aqui
escrevo em fuligem a velocidade
de um beijo
sussurrado ao vento e
apresso.me a dese
nhar o mar
se a noite
começar aqui
deixarei o outono e o in
verno ou
o inferno a
brincar com a prima
vera do verão
se o dia
se perder aqui
serei a sagração im
pura da alegria re
encontrada
ou a palavra amante pre
ferida
do poema
se o amor
reincidir em mim



*poema para ser lido e não dito
Poema inédito de gabriela rocha martins
Textos Transversais de Augusto Mota.

18/03/2008

vem, primavera

vem,
vem de noite, enquanto o monstro dorme,
vem, pela mão-madrugada de uma criança,
que é perfume e beijo, vento leve, prenhez avinhada,
ah! do vinho embriagador do tempo dos homens livres,
que há-de um dia sair do aconchego dos teus dedos
e existir nas flores e nos seios da tarde suavíssima
do teu enleio, companheira,
tarde que nunca anoitece, pura e constante,
transparente como a neblina vítrea
de uma canção secreta de núpcias;
vem pela noite espessa do nosso medo,
vem e apaga as cores do nosso arco-íris de incertezas,
e deixa que as mãos dos homens se prolonguem em teus ramos
e respirem em teu hálito de macieiras floridas -
vem,
e fecunda a terra de alegria
e fica para sempre a iluminar o nosso coração,
ó flor perfumada de luz!



Poema inédito de António Simões, Coimbra, 1960
"Quantos Passos", poema de Maria Toscano, com composição gráfica de Augusto Mota
Textos Transversais de Augusto Mota.

13/03/2008

Essas, Amor e Esperança - 3


essas
outras palavras,
estas cansaram.
os actos que faltam,
esses serão
as palavras novas,
definitivas.
( os actos são
palavras vivas )
amor
puseram algemas em minhas mãos
e elas ficaram nuas;
para apertarem as de todos os irmãos,
noutras minhas também , as tuas
esperança - 3
manhã sem sol,
manhã decretada manhã
pelos que a negam
e por nós que a afirmamos
manhã sem sol de sol escondido
nas raizes da noite que furamos
-e seremos tronco, flor e ramos


Poemas inéditos de António Simões,
Textos Transversais de Augusto Mota.

10/03/2008

apresentação do livro ".delete.me." ( conclusão )

foi assim que Silvestre Raposo apresentou o livro ".delete.me."
Escrever sobre Poesia


Escrever sobre Poesia...Escrever sobre um Poeta.
Não é fácil escrever sobre poesia, porque os poemas saem da Alma de quem os escreve e, a mim não me é possível ver a Alma.
Mais fácil será escrever sobre a vida de um Poeta, mas difícil se torna se o poeta é nosso Amigo…
Isto parece não estar a correr bem,… vá lá… Deleta-me… Não! não o vou fazer, vou continuar… sento-me…. olho… leio as primeiras palavras, depois procuro encontrar os sentidos e pensamentos daquelas palavras, procuro encontrar a Alma do Poeta.
Aos poucos, vou ficando cada vez mais prisioneiro das palavras …
Deleta-me? Qual quê… as palavras cada vez mais fortes, mais ousadas, mais acutilantes, mais serenas ou ternas, percorrem o Mundo da Poesia e a intimidade de muitos Poetas e vão tomando formas graciosas, desenhando esperanças e desejos e, o eu prisioneiro das palavras, já não as vai deixar, nem as quer perder, leio mais e mais avidamente as consumo, porque aqui estão mais que palavras, está o coração e alma do seu Autor.
Aqui as palavras são fragmentos, partículas de um todo que tem a força das marés e o brilho do Sol em tarde de Verão.
Aqui as palavras?… Deleta-me… penso nesta palavra… rio-me e sigo o pensamento

…anoitece, é anoitecer,
que segue o entardece
quando entardecer
e, se agora se não entende,
se entenderá quando se ler…

palavras… escurece… levanto-me, caminho, olho o Sol final de hoje no horizonte e a sua imagem no lago, junto da minha porta, simétrica como um espelho. Qual é a realidade, a verdade, essência e a aparência?

Palavras!
Quem ouve palavras?
Quem as lê?
São apenas palavras.
Pois são!
São apenas palavras,
mas vindas do coração.

Continuo prisioneiro destas palavras…
Deleta-me? Não !
Estou próximo do final ….
faltam poucas páginas
e não importa a dimensão,
porque as palavras
são bocados do coração.

São o alimento que pode saciar ou mitigar
a fome de aprender…
É noite !
é noite porque anoitece…
E eu escrevo
porque me apetece…

Gabriela este teu Deleta-me é uma delícia, em cada frase, em cada palavra encontro a força que contagia e obriga a continuar e querer ler mais e mais….

palavras…
não são palavras só não,
porque as palavras vêm da alma e do coração …
Sem mais palavras….
Deleto-me
Silvestre Raposo

... e a autora agradeceu deste modo...

não sei o que dizer quando falam de mim...
e não sei, porque escrever é um acto tão natural, quanto o respirar ou falar

respiro porque ouso viver .escrevo ,porque vivo ,ou finjo que o faço
há dias ,perguntaram.me o que representava este livro para mim
não soube responder ,então ,como não sei hoje .e não sei ,porque ele não é mais do que a projecção do meu braço ,da minha mão destra ( é com ela que escrevo ) ,dos meus dedos e do teclado do computador .ah!...., há ,também ,um pouco da minha cabeça ,neste ,como em todos os demais livros .um pouco, não ,o suficiente para tentar conduzir as palavras ,essas "meninas" teimosas que brincam comigo e que ,às vezes ,fazem.me perder a cabeça
escusado pensar em dominá.las ,em conduzi.las ,em obrigá.las a seguir por onde quero .não vale a pena .não sou eu que as conduzo ,são elas que me levam por onde e para onde querem .por isso ,não sei o que os livros são ,ou representam .perguntem.me ,antes ,pelas palavras .e ,a elas ,perguntem por mim
temos uma relação uterina ,de tal cumplicidade que ,às vezes ,consigo transformá.las num texto coeso .outras ,permanecem intransigentes ,como quem ,à semelhança de José Régio ,e ,no meio de uma tremanda gargalhada ,se afirma - "não ,não vou por aí ... vou por onde me conduzem os meus próprios passos" .que fazer ,então? nada .rendo.me à força da palavra e retiro.me para o meu sofá das recordações ,em paz com os deuses ,pedindo.lhes licença para iniciar uma nova brincadeira
e ,assim ,saídas de mim ,AS PALAVRAS brincam umas com as outras ,correm de um lado para o outro ,saltam ,colam.se ,separam.se ,zangam.se ,fazem as pazes ,irritam.se ,e ,finalmente ,cansam.se ,fartas de andar a correr sobre o papel .e quando se cansam ... helas! ... o livro nasce
foi o que aconteceu com este
e é nesta brincadeira ,minha com as palavras e delas comigo ,que algumas se apagam .há ,então ,no meu teclado ,uma tecla que se impõe às demais - DELETE .uma tecla que teve e tem uma relação de tal cumplicidade comigo que não resisto a chamar.lhe minha irmã - DELETE .daí o título do livro .o me veio na sequência imediata dessa cumplicidade existente ... entre mim e as palavras .entre as palavras e as teclas .num permanente jogo entre o escrever e o apagar .e ,quantas vezes não são as palavras ,imortais ,que me apagam ,simples mortal?
eis o título - .DELETE.ME.
hoje ,no Dia Internacional da Mulher, tão exaltada por João de Deus, meu patrono ,".delete.me." nasce e inicia o seu caminho ,só ,sem que ,doravante ,eu interfira no seu trajecto
peço.vos ,apenas ,isto ... se gostarem ,guardem.no .se não ,ofereçam.no a um amigo .talvez assim as palavras possam prosseguir a sua brincadeira ,no vagabundear pelo mundo ,recolando.se a outras .talvez ,assim ,encontrem um amigo de cabelos cor de fogo que ,com elas ,brinque, como eu fiz ,quando as encontrei e juntei
e, nessa brincadeira futura ,há um pouco de mim que fica
permitam.me ,neste dia e neste momento ,que reserve algumas palavras ,muito especiais
primeiro ,a minha Mãe ,parideira de mim e a quem reservei a primeira palavra .com ela ,aprendi a respeitar todas as outras
à direcção da Caixa de Crédito Agrícola ,com quem me habituei a "emparceirar" num anual jogo de palavras
à Folheto ,Edições & Design ,na pessoa do Dr. Adélio Amaro ,de quem ouviram algumas palavras
à Marta Jacinto que às minhas palavras juntou as suas ,desenhando a capa e a contracapa
à Hélia Coelho que vos embrulhou ,em beleza ,as minhas palavras
ao Presidente da Assembleia Municipal de Silves ,à Presidente da Câmara Municipal de Silves ,ao Vereador da Educação ,Cultura ,Turismo e Património ,à Chefe de Divisão e ao Presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines ,com quem ,amiúde, troco outro tipo de palavras
e ,porque os últimos ,às vezes ,são os primeiros ( dizem e eu acredito ) a todos vós ,meus AMIGOS ,que tiveram a paciência de me ouvir e quiçá ler - OBRIGADA!
dizem.me que fique por aqui
é tempo de pegar nas palavras e recolhê.las .de fechar ,com elas ,este ciclo
deleto.me
gabriela rocha martins

apresentação do livro ".delete.me." ( 1ª parte )

.delete.me. iniciou os seus passos
com uma conversa entre dois amigos ,gabriela rocha martins [ autora ] e José Paulo de Sousa [ membro da Direcção da Caixa de Crédito Agrícola de São Bartolomeu de Messines ] ,momentos antes da apresentação.

a admiração de gabriela
rocha martins com a chegada da Presidente da Câmara Municipal ,Isabel Soares ,ao Auditório da Caixa de Crédito, onde decorreu a apresentação do seu livro.
o beijo do amigo e Vereador ,Rogério Pinto ,e ,o sorriso do Presidente da Junta de Freguesia de Messines ,José Vítor
foi o princípio da apresentação de .delete.me.
que inicia o seu caminho ,só ,sem que ,doravante ,a autora interfira no seu trajecto...


...desejando ,apenas ,que .delete.me. prossiga o seu vagabundear pelo mundo

porque nesse seu vagabundear há um pouco da autora que fica...
.delete.me.

"Amanhece", "exactamente na manhã", como o vento que vestia aquelas meninas, simples, fortes e sensíveis. Aquelas meninas capazes de abandonar uma lágrima, na última ou na primeira ceia da voz que se ergue. Meninas, talvez renascidas, que sabem premiar a feminilidade, tenha o chapéu três ou mais bicos. Meninas que souberam semear a raiz de uma flor que viria a ser colhida, recolhida ou mesmo protegida, no Verão, enquanto os ecos do cantar de um pato, de um gato ou mesmo de um cão, semeiem risos, sorrisos, pelas faces das crianças, femininas, que erguem seus braços "às estrelas do desejo".
".delete.me." é a voz de quem sente, de quem vive, de quem suaviza o grito feminino com "mãos de fogo". ".delete.me." é o prazer suave, por vezes demorado, de quem se deleita com o barulho da água/espargida pelos pássaros do jardim" até à"ascese do último / verso". Prazer que se move entre o deleite e o deletério de um pensamento que corre para o perigo que destrói um sonho encantado como "um homem louco / encontrado na casa amarela".

Este livro de gabriela rocha martins devolve, a quem o lê, a quem o sente, a voz da alegria. A voz que faz sorrir, sentir, amar e viver. Mas, também a voz dorida pela indiferença e insegurança que se estende pelo esteiro do tempo impagável com que a Mulher, a Mãe sempre lutou. Mulher que hoje é lembrada como força activa de uma sociedade de dois sexos que deveria ser una na voz, no sentimento e na oportunidade.
".delete.me." são poemas que ajudam a delet(ar) o medo dos "dentes" do "vampiro", mas que, ancestralmente, ajudam a promover o sentimento da beleza, como referia Miguel Torga quando escreveu "Orfeu Rebelde".
"Canto como quem usa / Os versos em legítima defesa
Canto, sem perguntar à Musa / Se o canto é de terror ou de beleza."

".delete.me." é também a revolta, a incapacidade de compreender a incompreensão. São poemas de esperança mas também de revolta. A revolta de uma "Revolução" que nasceu do medo e promoveu a "Evolução" de um "menino sem ideal" que dança ao som de "pianos negros".
Poemas que cantam esta dor de ser impaciente pela impaciência do inconformismo dos outros. Poemas de quem dá o punho para receber um punhado de mãos vazias de coisa alguma.
Poemas que revoltam a evolução da esperança, como defendia o Padre António Vieira:
"Esperança é o último remédio que a natureza deixou para todos os males" (...) "Tudo o que vive nesta vida, não é o que é, é o que foi, é o que há-de ser".
Após 400 anos do seu nascimento, 6 de Fevereiro de 2008, as palavras de Vieira continuam a ser folhas castanhas que abraçam o vento. Folhas que os desejos escondidos em capotes continuam a ignorar. Capotes de obras estaladiças. Porque "Para falar ao vento bastam palavras. Para falar ao coração, é preciso obras", galgou assim a pena de António Vieira.

gabriela rocha martins sublinha as páginas de ".delete.me." com mensagens de quem sabe realçar um "grito abafado" que transpira das penas negras de um melro, onde a semente do luto pode ser o chilrear de um pardal. Mensagem de poetisa em voz de quem conta ou encanta. Mensagem de contos vividos, perdidos ou sofridos na viagem do tempo que os curtos dias da vida nos oferecem.
Embora a poetisa diga não ser poeta, no meio de um amor perdido ou sentido, no meio de uma "Revolução" de asas curtas para a "Evolução", a verdade é que estes poemas, estas histórias, são o "xeque-mate" para a "celebração do silêncio" que enaltece a "capacidade de criar". E, mesmo que isso não "lhe basta", o grito da sua força está patente neste silêncio que nos faz voar enquanto os nossos olhos húmidos vão falando ao coração.
No fundo, estas linhas que página a página vão surgindo em ".delete.me." são o hino da vida. Da vida de quem sabe. Da vida de quem viu. Da vida de quem conhece. Da vida de quem sentiu . Porque "A vida é o dia de hoje", salpicou numa folha João de Deus, após a sua experiência de vida que iniciou a 8 de Março de 1830.

Adélio Amaro, Leiria, 8 de Março de 2008. - o editor de .delete.me.

08/03/2008

Dia Internacional da Mulher


celebrado pelo jardineiro-filósofo ,almirante desta nau ,e de seu nome ,Augusto Mota
.único!

07/03/2008

Parabéns a Você!


Parabéns a você
nesta data querida
muitas felicidades
muitos anos de vida
Hoje é dia de festa
cantam as nossas almas
para a menina Ana
uma salva de palmas

Para a Ana Ramon [ da tripulação - desde o almirantado aos grumetes - do Palácio das Varandas]
Texto transversal de Augusto Mota.

04/03/2008

O Orelhas

Imortal canção infantil de Susy Paula, actualizada.

01/03/2008

apresentação de "delete.me"

No âmbito das Comemorações de João de Deus,
a Caixa de Crédito Mútuo de São Bartolomeu de Messines, a Folheto, Edições & Design e a autora, têm o grato prazer de convidar V Ecia e Família
para a apresentação da obra

delete.me

por Mestre Silvestre Raposo

seguida de leituras por Hélia Coelho


no próximo dia 8 de Março, pelas 18h00, no Auditório da Caixa de Crédito Mútuo de São Bartolomeu de Messines

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Blogues que referem esta apresentação

Nova Águia ( Na Agenda Mil - notícias relativas ao mês de Março )
Folheto, Edições & Design
canto.chão

Crónicas de um Pássaro de Corda
Matebarco
No Princípio Era o Caos