a terra não esquece
é um punhado de terra
que apanhei no campo –
tem o pó dos mortos
e o húmus do sonho;
os passos dos carrascos
ressoam lá dentro
nos torrões castanhos,
e o uivo do vento;
ouvem-se as crianças
voando alto
e o silêncio dos vermes
ganhando asas –
a sombra das nuvens,
o voo do milhafre,
tudo regista
a sua memória;
e o sangue caído
do corpo dos justos
ainda goteja
em seus labirintos;
a seca e a sede,
a chuva e o choro,
o que por ela passou
a terra não esquece –
e tu que a pisas
ou prendes nos dedos,
e tu que me lês
não esqueças também.
António Simões, 1983
foto: augusto mota
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