O quarto em desordem
Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor
que não sabe como é feita: amor,
na quintessência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar
a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,
verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.
Carlos Drummond de Andrade, in «Fazendeiro do Ar», 1952-1953.
in «FAZENDEIRO DO AR & POESIA ATÉ AGORA», 2ª edição, p. 549, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1955.
foto: augusto mota / centro de uma rosa Madame Meilland
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