Os carneiros do sol anunciavam um novo ciclo,
tríptico e cântico da fábula azul da eternidade.
Na frescura dos jardins, imaginava o paraíso da dálias,
murtas e lírios,
recriado nos ciclos de luz, nos ciclos do sol. Sob o signo de Capricórnio, havia rochedos brancos de sede
levantando-se, como uma rosa insurrecta,
sobre um vaso nacarado que iluminava o jade, a sombra azul,
as abelhas e as ametistas, entre as ruínas de Badedras,
Numeira ( as antigas cidades do Mar Morto ). Chamavam-se então Sodoma e Gomorra,
era quando os homens alojavam perversos mistérios,
sob o seu coração e viver era olhar o fogo inclinado,
entre as colunas de sal.
Olhar para trás era impossível. Era preciso deixar as paisagens desoladas e recriar a vida,
negra passiflora, sob os dedos da lua,
retirando a pele, camada sobre camada, e prosseguir,
pela sombra exausta,
porque as árvores refaziam a sua sombra milenar,
a verde folhagem. A treva moldava a sua flor.
Lot adormecera já sobre as cinzas das cidades perversas.
E tudo fazia sentido: o mar, a morte, o Deus Bíblico,
a treva e o húmus nocturno. Pelos vinhedos do céu, adivinha-se o mar,
e o silêncio descia, coberto de velaturas eternas.
E as luzes cobriam a terra que de novo se abria,
como um cálice nocturno, cálido e fecundo, como um dia de Verão. Maria do Sameiro Barroso, inédito, in "Idades Sonâmbulas".
3 comentários:
Um abraço, minha Amiga, quase a virar o ano!
Não é preciso chegar ao Verão para nos deleitarmos com a poesia de Maria do sameiro.
Um beijo, amiga!
Obrigada, Maria!
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